Biblioteca do Vaticano disponibiliza na
internet 256 dos seus 80 mil manuscritos. Em parceria com a Universidade
de Oxford, o processo de digitalização do acervo vai levar mais de dez
anos para ser concluído.
Fechados pelo enorme aparato de segurança do Vaticano e guardados com
extremo rigor no cuidado com temperatura e umidade do ar, mais de 80 mil
manuscritos passam por um processo de digitalização na Biblioteca
Apostólica Vaticana. As primeiras 256 obras já estão disponíveis no site da
instituição e, entre elas, há preciosidades como ‘Variae epistolae’, do
ano 537, de autoria do monge calabrês Cassiodorus Senator.O esforço para digitalizar todos os manuscritos da biblioteca é lento,
custoso e delicado, conforme explicitou o monsenhor Cesare Pasini,
prefeito da instituição. Todas as obras disponíveis agora e no futuro
podem ser consultadas gratuitamente.
O procedimento é feito com tecnologia chamada Fits (Flexible Image
Transport System), desenvolvida pela Nasa – a agência espacial dos
Estados Unidos. Para esta primeira fase da digitalização, a Biblioteca
Vaticana recebeu 2,5 milhões de euros da fundação londrina Polonsky. A
biblioteca Bodleian, da Universidade de Oxford, também terá manuscritos
digitalizados. Estima-se que 1,5 milhão de páginas sejam fotografadas,
sendo dois terços correspondentes às coleções do Vaticano.
O prefeito da Biblioteca Vaticana conta que há uma prioridade.
Escritos hebreus, gregos e incunábulos (obras impressas com tecnologia
ainda incipiente) do século XV foram os escolhidos para virem à público
primeiro, devido à importância histórica. “As obras são de vários
períodos históricos, vão da Idade Média ao século XV. Decidimos por
digitalizar antes os manuscritos mais delicados e antigos”, explica
Pasini.
Tudo é feito com doações e apoio de outras instituições, como a EMC
Corporation, que oferece o suporte técnico. “Eles nos deram máquinas
para digitalização, conservação e também apoio financeiro”, conta
Pasini. A Biblioteca Vaticana mantém ainda outro projeto de
digitalização, em parceria com a Universidade de Heidelberg, na
Alemanha. Com ele haverá a reconstituição digital da antiga Biblioteca
Palatina, a qual chegou a ser considerada tesouro da Alemanha no século
XVI, cujo acervo se encontra, na maioria, em Roma.
“Esses bens dizem respeito à Humanidade. Tem cultura clássica,
humanística, pré-colombiana, asiática, chinesa, japonesa. São livros que
podem interessar a todas as pessoas curiosas do mundo”, enumera o
dirigente da biblioteca. “As pessoas vão poder ler e ver as imagens;
isso se torna um serviço de conhecimento e liberdade”, completa.
Muitos anos pela frente
Manuscritos disponíveis são de períodos da Idade Média até o século XV
O trabalho, porém, será longo. No ano passado, quando o projeto foi
anunciado, a expectativa era de completá-lo em até cinco anos. Mas a
escassez de recursos pode atrasar – e muito – o processo. “As
dificuldades financeiras destes anos tornaram difícil encontrar
colaboradores. Portanto, o projeto deve levar mais de dez anos para ser
concluído”, avalia Pasini. A biblioteca agora está procurando
instituições que possam ajudar a financiar o projeto, já que o
dinheiro disponível só deve assegurar mais três anos de trabalho.
O professor de paleografia João Franklin Leal avalia a digitalização
dos manuscritos com empolgação. “A gente aplaude, porque é realmente uma
coisa estupenda. Não é só maravilhosa, é estupenda”, diz. Para o
historiador, que já visitou a Biblioteca Vaticana, ter os manuscritos
online gratuitamente é uma forma de democratizar o conhecimento.
“Agora não vai ser mais preciso pegar avião, se hospedar em hotel,
passar pela burocracia do acesso. Isso tudo leva tempo. Para consultar
um livro é preciso esperar uma semana. Imagina o preço que fica”,
comenta. “Com tudo digitalizado e na internet, o acesso é em casa”,
destaca Leal.
Há, porém, uma única desvantagem da iniciativa, segundo Leal: “Só é
uma pena que as pessoas vão perder a oportunidade de visualizar a beleza
da própria estrutura física da biblioteca e dos exemplares. Uma coisa é
ter digitalizado. É bonito, é fantástico, a informação está ali. Mas
outra coisa é sentir o produto na sua frente, tocar nele. Isto não dá
para substituir”, suspira.
Fonte: Blog da UCS via Revista de Historia em http://www.revistadehistoria.com.br/secao/reportagem/a-bencao-da-tecnologia