Desde o início da revolução industrial, a água do mar em todos os oceanos do nosso planeta começou gradualmente a tornar-se mais ácida. Como o aquecimento global, esse processo, conhecido como acidificação dos oceanos, é um resultado direto do aumento das concentrações de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, produto das atividades humanas. Até hoje, as mudanças da química da água do mar representam quase 30% de aumento da acidez. Previsões para o futuro indicam que o oceano vai continuar a absorver mais dióxido de carbono e se tornar cada vez mais ácido. A acidificação dos oceanos pode afetar muitos organismos marinhos e em diferentes graus, mas especialmente aqueles que constroem suas conchas e esqueletos de carbonato de cálcio (CaCO3), tais como corais, ostras, mariscos, mexilhões e pequenas algas, mas também, os impactos da acidificação podem afetar as populações, comunidades e ecossistemas, e até mesmo impactar setores socioeconômicos que dependem dos serviços provenientes de ecossistemas costeiros. Veja a recente publicação acerca dos potenciais impactos e dos ecossistemas vulneráveis na costa brasileira no artigo de revisão publicado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Acidificação dos Oceanos (BrOA; www.broa.furg.br) no link http://link.springer.com/article/10.1007%2Fs00267-015-0630-x
Para enfrentar esta ameaça da acidificação nos ecossistemas marinhos, em 15 de Dezembro, na cidade de Concepcion, Chile, um grupo de 24 cientistas de sete países da América Latina, incluindo Argentina, Brasil, Colômbia, Equador, Peru, México e Chile, se reuniram para estabelecer oficialmente a Rede Latino-Americana de Acidificação dos Oceanos (Rede LAOCA). Este foi co-financiado pela Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA), através do Centro Internacional de Coordenação sobre a Acidificação do Oceano (OA-ICC), a Comissão Oceanográfica Intergovernamental (IOC) da UNESCO, o Centro de estudo de estressores-múltiplos no sistema sócio-ecológico marinho (MUSELS) e do Instituto Milênio de Oceanografia (IMO) do Chile. Durante dois dias, o grupo de cientistas discutiu os pontos fortese fracos de cada país em relação ao estudo do processo de acidificação dos oceanos, defininindo a missão e os objetivos da Rede LAOCA:
(i) sintetizar informações sobre os impactos da acidificação dos oceanos na América Latina,
(ii) reforçar a implementação, manutenção e bases de dados do sistema carbonato de longo prazo na América Latina,
(iii) treinar os membros da rede em diferentes linhas de ação (por exemplo: observação, experimentação e modelagem),
(iv) padronizar as técnicas de análise química e protocolos experimentais, a fim de promover a geração de dados de boa qualidade,
(v) estabelecer um centro regional de coordenação e comunicação entre programas de pesquisa local, regional e global (por exemplo, BrOA, IMO, OA-ICC, GOA-ON, IOCCP),
(vi) identificar e avaliar cenários de acidificação do oceano locais e regionais para os diferentes tipos de ecossistemas marinhos,
(vii) promover o intercâmbio de estudantes e proporcionar o acesso a infra-estruturas e equipamentos de instituições e membros da rede,
(viii) desenvolver estratégias de divulgação para comunicar o problema da acidificação do oceano para a sociedade,
(ix) promover o desenvolvimento de projetos de investigação entre os países membros da rede, e
(x) promover a inclusão da questão da acidificação dos oceanos na agenda política dos países membros, através da implementação de acordos de cooperação internacional entre os países latino-americanos que fazem parte da rede.
Finalmente, um Comitê Executivo para a Rede LAOCA foi nomeado. Em sua primeira gestão, este terá a co-direção de Leticia da Cunha (Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, Brasil, Co-líder da Rede BrOA); Nelson A. Lagos (Centro de Pesquisa e Inovação para as Alterações Climáticas, CiiCC Universidade de Santo Tomas, Chile Membro do Conselho Consultivo Científico da OA-ICC Grupo de Trabalho e SOLAS-IMBER em Acidificação do Oceano, SIOA) e Cristian A. Vargas (Universidad de Concepción, Chile. Membro Consultor da Rede Global de Observação da Acidificação do Oceano (GOA- ON) e do Programa de Coordenação Internacional de Carbono nos Oceanos (IOCCP)). Este comitê também é composto por um representante de cada país membro, incluindo: Rodrigo Kerr (Universidade Federal do Rio Grande – FURG, Brasil, Co-líder da Rede BrOA), Patricio Manriquez (CEAZA, Chile), Patricia Castillo-Briceño (ESPOL, Equador), Alberto Acosta (UTADEO, Colômbia), Michelle Graco (IMARPE, Peru) e Jose Martin Hernandez-Ayon (UABC, México). O Comitê Executivo da Rede LAOCA realizará a sua primeira reunião de coordenação em Maio do próximo ano, a fim de discutir o plano científico e ações de trabalho colaborativo para o primeiro ano de funcionamento da Rede.
Fonte: IO/FURG
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