No início desse mês, um projeto de pesquisa desenvolvido no Instituto de Oceanografia da Universidade Federal do Rio Grande (IO/Furg), foi escolhido pelo Google como um dos vencedores do programa de Bolsas de Pesquisa Google para a América Latina. O trabalho, liderado por Jorge Arigony-Neto e Guilherme Tomaschewski Netto, pretende desenvolver estações autônomas de baixo custo para medir o impacto das mudanças climáticas nas geleiras.
O projeto
A ideia do projeto surgiu a partir da
parceria de estudo entre Jorge, professor do IO/Furg, e Guilherme,
cientista da computação e doutorando no Programa de Pós-Graduação em
Oceanografia Física, Química e Geológica da Furg. Ambos já trabalhavam
com a área no laboratório da universidade e desenvolveram o projeto
seguindo a linha de trabalho que realizavam com o apoio do Instituto
Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) da Criosfera, do qual o IO/Furg é
parte.
“Nós realizamos esse monitoramento das
geleiras há alguns anos, mas o trabalho sempre teve um custo muito
elevado, em consequência do alto valor das estações de monitoramento que
precisavam ser compradas”, explica Jorge Arigony. E continua: “Com o
projeto da montagem das nossas próprias estações através de uma
estrutura de fibra de carbono, reciclada de pranchas de windsurf,
conseguimos realizar o mesmo trabalho com um custo muito mais baixo”,
completa.
Recursos
O professor também explica o motivo da
necessidade de um material mais barato: “Como as geleiras são instáveis,
devido ao clima extremo, há sempre a possibilidade da geração de fendas
no gelo, e, consequentemente, a queda das estações nessas aberturas”,
conta. “Nós já tivemos que realizar resgates de estações nessas
condições. Por isso, uma estação produzida aqui e com um custo bem menor
é uma segurança bem maior para a manutenção dos recursos do projeto”,
explica o pesquisador.
Já o doutorando Guilherme conta sobre a
implantação de protótipos do modelo no último ano. “Atualmente, nós
temos dois protótipos do projeto fixados em geleiras. Realizamos o
monitoramento por um sistema de satélite e, até agora, obtivemos uma
resposta positiva”, explica. Ele também comenta sobre o futuro do
projeto com o novo investimento da bolsa do Google: “Nossa próxima
expedição está marcada para outubro, quando nós pretendemos substituir
os protótipos atuais e fixar seis equipamentos para o monitoramento no
próximo ano”.
Autonomia
Ele também afirma que a construção dos
equipamentos de forma customizada às necessidades do tipo de terreno
estudado, dá uma autonomia bastante grande na coleta de informação e um
caráter inédito na forma como estas serão coletadas. Os pesquisadores
esperam que a implantação do projeto some ainda mais ao trabalho
realizado em um dos laboratórios do Instituto de Oceanografia da Furg,
local onde estudantes da graduação e pós-graduação podem manter contato
direto com o monitoramento e a construção das estações.
Eles ainda falam sobre como a bolsa do
Google é um incentivo, já que o projeto ainda está em fase de
desenvolvimento e testes. “Realizamos esse trabalho com a esperança de
que a estratégia funcione, mas a realidade é que o clima do local é
muito duro, o que deixa os protótipos e a nossa estratégia sujeitos ao
erro. Mas, como a bolsa nos dá liberdade para um investimento mais
amplo, podemos ir injetando os recursos de acordo com as necessidades do
projeto, até que o resultado seja positivo”, explica Jorge.
Disponibilização do conhecimento
Finalizando, os pesquisadores contam
sobre os planos futuros para o projeto: “Assim que obtivermos a certeza
do sucesso das estações, pretendemos desenvolver um manual com
especificações sobre a construção do equipamento. Queremos
disponibilizar esse projeto final em uma plataforma livre, pela qual
seja possível expandir esse conhecimento e tecnologia para qualquer um
que se interesse ou precise do equipamento”, conclui o doutorando
Guilherme.
Por Luiza TrápagaFonte: Jornal Agora, em 14/08/2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário