East London, África do Sul, 1938. Um pescador local deixa um pacote com sobras da última pescaria para serem analisadas em um pequeno museu de história natural. Ao examinar o conteúdo, a curadora Marjorie Courtenay-Latimer encontra um peixe azulado, com um metro de comprimento, dotado de nadadeiras carnudas que lembravam os membros de vertebrados terrestres. Ela estava diante de uma das mais notáveis descobertas da zoologia no século 20. Marjorie tinha em suas mãos um celacanto.
A espécie, batizada de Latimeria chalumnae em homenagem à sua descobridora, só era conhecida através de fósseis e acreditava-se que havia entrado em extinção 70
milhões de anos atrás. O animal apresentava características que
poderiam desvendar o processo de transição dos vertebrados do ambiente
marinho para o terrestre e tinha parentesco com o primeiro peixe que
rastejou para fora d’água e colonizou os continentes. O achado de
Marjorie mostrava aos cientistas que os celacantos estavam vivos e que
outros indivíduos podiam nadar pelo oceano naquele exato momento.
Quinze anos depois, no arquipélago de Comoros, um segundo
celacanto foi encontrado e, nas últimas sete décadas mais 309 indivíduos
foram avistados. Em 1997, uma nova espécie, Latimeria menadoensis,
foi descoberta na Indonésia. No entanto, a transição dos vertebrados da
água para a terra, um dos acontecimentos mais importantes na história
da evolução, permanecia um mistério. Os cientistas ainda se perguntavam: como isso aconteceu?
Nadadeiras de celacanto lembram os membros de vertebrados terrestres – Foto: HTO
A resposta começou a aparecer no dia 18 de abril deste ano, quando a revista Nature publicou um artigo intitulado “O genoma do celacanto africano fornece novas perspectivas para a evolução dos tetrápodes”.
O estudo mapeou o genoma de Latimeria chalumnae e comparou amostras de RNA – molécula que transmite as informações genéticas – da espécie e do peixe-pulmonado Protopterus annectens (da subclasse dos dipnóicos), ambos parte da linhagem evolutiva que deu origem aos tetrápodes, grupo que inclui todos os vertebrados terrestres (anfíbios, répteis, aves e mamíferos).
O resultado mostrou que os peixes-pulmonados têm um parentesco mais próximo com os tetrápodes. Porém, o genoma
dos dipnóicos é muito grande, e não pode ser sequenciado pelas técnicas
atuais. Assim, o celacanto é a melhor opção para explicar como ocorreu a
transição dos vertebrados da água para a terra.
Um estudo comparativo de DNA com os tetrápodes também foi
realizado. Os pesquisadores identificaram mais de 50 genes presentes no
DNA do celacanto, que não são encontrados no genoma de vertebrados
terrestres. As analises demonstraram que características morfológicas
essenciais na transição dos oceanos para o ambiente terrestre estão
relacionadas com a perda de genes durante a evolução.
Os estudos estão apenas no começo, mas o mapeamento do
genoma do celacanto tem o potencial para explicar como o primeiro peixe
deixou os oceanos e deu origem a todos os vertebrados terrestres. Se
isso acontecer, um dos maiores mistérios da história da evolução pode
ser desvendado.
Fonte: National Geographic Brasil, por Fábio Paschoal em 22 de abril de 2013, acesso em
http://viajeaqui.abril.com.br/national-geographic/blog/curiosidade-animal/celacanto-peixe-evolucao-dos-vertebrados/
Nenhum comentário:
Postar um comentário