Organizado por pesquisadores de diferentes instituições
norte-americanas, o Manifesto de 2010 apresenta a altmetria (em inglês,
altmetrics), que propõe avaliar a repercussão de pesquisas científicas
com base nas interações nas redes sociais. Afinal, se a dinâmica de
compartilhamento do conhecimento mudou, por que a principal forma de
avaliar a repercussão de uma pesquisa continuaria restrita às citações
recebidas em outros artigos?
CURTA E COMPARTILHE
“Enquanto
as citações levam cerca de dois anos para aparecer, os dados de
altmetria proporcionam um retorno imediato do impacto da pesquisa em
fontes não tradicionais, como redes sociais e jornais”, afirma o biólogo
britânico Mark Hahnel, fundador e CEO do Figshare, um repositório
aberto de artigos científicos.
A plataforma desenvolvida por Hahnel exibe informações como o número
de downloads e visualizações, além do selo com a avaliação de altmetria
desenvolvida pela Altmetric, empresa inglesa que atribui uma pontuação
diferente para cada tipo de interação ocorrida com o artigo online. O
cálculo dessa pontuação é desenvolvido por um algoritmo, que calcula a
relevância de cada ação: uma notícia citando o artigo em um jornal de
grande alcance vale mais do que o compartilhamento em uma rede social
para poucas pessoas, por exemplo.
Andréa Gonçalves do Nascimento,
bibliotecária que pesquisou a altmetria para seu mestrado na
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, destaca que as
métricas alternativas colaboram para despertar o diálogo entre o
cientista e o público leigo. “O cientista acompanhará a repercussão e
entrará em contato com as pessoas que se interessaram pelo estudo”, diz,
ressaltando que os métodos formais de divulgação não permitem essa
interação entre os cientistas e seus leitores.
#PESQUISATOP
Além de estimular a interação
entre os pesquisadores e o público, métodos alternativos de divulgação
permitem que mais pessoas tenham acesso a pesquisas de ponta, já que,
atualmente, a maior parte dos periódicos científicos não são gratuitos. A
utilização de novas métricas para calcular o impacto das pesquisas
também beneficia países em desenvolvimento, como Brasil e Índia, uma vez
que as revistas consideradas mais relevantes reservam a maior parte de
suas páginas para publicar pesquisas produzidas em países ricos.
“Mas
esses dados adicionais devem beneficiar de verdade os cientistas e suas
instituições, trazendo informações novas e relevantes e não somente
dizendo a mesma coisa que as métricas tradicionais já dizem”, afirma
William Gunn, diretor de comunicação acadêmica da Elsevier, maior
editora científica do mundo.
Rita de Cássia Barradas Barata, diretora de avaliação da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), ressalta que as
métricas alternativas são particularmente úteis para saber o impacto de
pesquisas que não têm aplicação tão rápida nem geram patentes. “Quanto
da pesquisa que é financiada por recursos públicos é de fato relevante
para solucionar problemas da sociedade? A altmetria pode ajudar a tornar
isso mais claro”, afirma. Mas a diretora da Capes, uma das mais
importantes instituições de financiamento de pesquisa do país, alerta
para a necessidade de as métricas contarem com critérios rigorosos. “É
mais fácil divulgar em redes sociais, mas é difícil saber se esses
números são espontâneos ou manipulados.”
Abel Packer, diretor da
biblioteca digital brasileira SciELO, considera que a altmetria não
substituirá o método tradicional das citações, mas complementará o
trabalho de divulgação. “Existe uma correlação entre ser popular nas
redes sociais e receber mais citações no futuro.”
Para que os órgãos de incentivo à pesquisa considerem a altmetria um
método seguro para identificar trabalhos relevantes, a comunidade
científica precisará trocar curtidas, compartilhamentos e comentários
com textões. De acordo com Packer, a partir de 2018 será obrigatória a
participação em redes sociais das mais de 400 revistas científicas que
fazem parte do acervo da SciELO. “A comunicação está na essência da
pesquisa científica. O trabalho que não surge para ser comunicado não
tem sentido.”
Os números não mentem
A empresa
inglesa Altmetric desenvolveu um algoritmo que calcula a relevância dos
artigos científicos citados nas redes sociais e nos jornais
17 milhões é o número de menções nas redes sociais recebidas pelos 2,7 milhões de artigos científicos rastreados pela Altmetric.
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Fonte: Galileu
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