terça-feira, 27 de novembro de 2018

Vaquita, o cetáceo mais ameaçado do mundo

Vaquita, conheça o cetáceo mais ameaçado do mundo

Vaquita, também conhecida como boto do pacífico, ou Panda do Mar, em razão de manchas negras nos olhos, é um cetáceo endêmico do extremo norte do Golfo da Califórnia, ou Mar de Cortez.
O golfo da Califórnia, o Mar de Cortez, é o habitat da vaquita.
 Das 129 espécies de mamíferos marinhos, a vaquita é a menor, e considerada a mais ameaçada. Em 2017, havia 60 indivíduos; em 2016, 30. E o número caiu mais ainda. A última contagem do Comitê Internacional para a Recuperação da Vaquita (CIRVA), mencionava apenas 12 indivíduos em 2018. Esta guerra parece estar perdida. Mas o que mais incomoda, é motivo da possível extinção: a pesca ilegal, e o tráfico de animais silvestres. Ou seja, pura canalhice.
Imagem:Photo credit: Paula Olson (NOAA) / Wikimedia Commons

Tráfico e pesca ilegal, duas chagas da nossa era

Quem conta é o site earthjournalism.net: ” A bexiga natatória do peixe totoaba tem sido chamada de “cocaína do mar” porque, quando contrabandeada do México para a China, é vendida por US $ 40 mil a US $ 60 mil por quilo graças a supostas qualidades medicinais. O peixe acabou classificado como ‘criticamente em perigo‘. Consequência da frenética procura. E a situação do outro animal que é pego em redes de totoaba, é ainda mais terrível. O comércio ilícito fez com que o menor mamífero marinho do mundo, a vaquita, praticamente se extinguisse. Na última contagem apenas 12 permanecem vivos.”

Venda de bexiga natatória da pescada amarela no Pará

Observação do Mar Sem Fim: este mesmo absurdo acontece no Brasil, especialmente no Pará, onde o quilo da bexiga natatória da pescada amarela vale mil reais. Note que este valor é para o primeiro elo da cadeia, os pescadores. Fico pensando por quanto seria vendido o quilo para exportação, sabendo que, depois do peixe ser fisgado, a bexiga é retirada e revendida. Em seguida elas passam pelas mãos de mais dois, ou três atravessadores, até chegarem ao porto e serem exportadas. A cada novo passo da cadeia, o preço sobe no mínimo 50%.

Três problemas de uma só vez

O relato do earthjournalism.net é bom porque reforça o poder destrutivo do arrasto, que temos denunciado ao longo do tempo. É com redes de arrasto que pescadores ilegais caçam o totoaba. Como não são seletivas, as redes trazem em suas malhas também a vaquita. Cansamos de propor que o arrasto seja proibido no Brasil. Como as autoridades não tomam conhecimento, sugerimos o boicote por parte do consumidor. São as armas que temos. É preciso se acostumar a usá-las. É assim que funciona a democracia, um jogo constante de pressões da sociedade, entre outros. E além do arrasto, o texto põe o dedo na ferida ao abrir espaço para o tráfico de animais silvestres, e a pesca ilegal. Curiosamente, sempre que estes ‘predicados’ estão presentes, a China também está.

“Um dos mais importantes e épicos fracassos da conservação”

Foi assim que se referiu Andrea Crosta, ao programa para salvar a vaquita .Ela é investigadora da vida selvagem. E contou que a causa das vaquitas mobilizou cerca de US $ 100 milhões nos últimos 10 anos. E explicou: “Durante anos e anos, eles tentaram resolver a questão da vaquita / totoaba, concentrando-se apenas no mar e apenas nos pescadores. A chave para parar a pesca e o tráfico ilícito de totoabas é em terra e, mais precisamente, visando os comerciantes ilegais chineses que residem no México.” E arrematou: “É uma questão criminosa que deve ser colocada nas mãos de especialistas criminais. E não de biólogos como tem sido feito há anos.”

Contrabando e lavagem de dinheiro

Essa ‘é uma briga de cachorro grande’, como diz o ditado. Quem se mete em contrabando e lavagem de dinheiro são gângsters, associados a outros bandidos mundo afora. Andrea Crosta diz que “os cartéis que compram a bexiga da totoaba e a contrabandeiam para a China, também estão envolvidos na lavagem de dinheiro.”

O esquema ilegal

earthjournalism.net explica: “O comércio de totoaba é apenas uma pequena fatia de um bolo muito lucrativo. Em todo o mundo, o comércio ilegal de animais silvestres vale dezenas de bilhões de dólares. Está levando dezenas de espécies à extinção enquanto enriquece os sindicatos criminosos. Em uma recente conferência em Londres, pesquisadores disseram que a “evidência do fracasso” está frustrando os esforços para detê-lo. Crosta diz que o declínio da vaquita é um excelente exemplo.
Panda do Mar, o último dos moicanos. (Foto:Greenpeace/Marcelo Otero)

A reação internacional

A reação internacional contra o tráfico ilegal nos parece pequena em face do poderio dos cartéis. Como a própria matéria explica, ‘o tráfico movimenta algumas dezenas de bilhões de dólares‘. Ao pesquisar apenas quanto vale o tráfico, chegamos a números diferentes. Para o site http://factsanddetails.com “O comércio ilegal de animais – que inclui o tráfico de marfim, partes de tigre, chifre de rinoceronte, barbatana de tubarão, aves exóticas, pele de réptil, carne silvestre e produtos da vida selvagem – está avaliado em pelo menos US $ 10 bilhões e pode ser o dobro disso”.
O site da NOAA abriu uma página para a vaquita

O WWF tentou responder a mesma pergunta. Afinal quanto vale o tráfico? “Esta é uma estimativa difícil de fazer. Como diretriz, o TRAFFIC calculou que produtos da vida selvagem no valor de US $ 160 bilhões foram importados para todo o mundo a cada ano no início dos anos 90. Além disso, há um grande e lucrativo comércio ilegal de vida selvagem, mas, como é conduzido secretamente, ninguém pode julgar com exatidão o que isso pode valer a pena.”

Segunda maior causa de perda de biodiversidade

De acordo com o WWF, “o tráfico é a segunda maior ameaça direta às espécies após a destruição do habitat.” Para se ter ideia do tamanho da operação saiba que “o comércio envolve centenas de milhões de plantas e animais silvestres de dezenas de milhares de espécies.  Existem registros de mais de 100 milhões de toneladas de peixes, 1,5 milhão de aves vivas e 440.000 toneladas de plantas medicinais comercializadas em apenas um ano. 

Príncipe William defende a causa

No evento de Londres “o governo do Reino Unido anunciou um aumento de 3,5 milhões de libras para a abordagem que Crosta defende, chamando-o “o maior projeto conhecido do tipo para reprimir crimes financeiros associados ao comércio ilegal de animais selvagens. No mesmo dia, o príncipe William lançou uma “força-tarefa financeira da vida selvagem” (wildlife financial taskforce). Mais de 30 bancos e instituições financeiras se comprometeram a “não facilitar ou tolerar conscientemente fluxos financeiros derivados do comércio ilegal de animais silvestres e corrupção associada.”
Ao lançar a iniciativa William declarou:
"Não podemos permitir que essa luta seja uma prioridade apenas para os conservacionistas"
Outro que se uniu à causa foi o ator Leonardo di Caprio com sua fundação, e a do milionário mexicano Carlos Slim. Resta saber se ainda há tempo…
Leonardo di Caprio e o presidente mexicano Peña Neto

Ok, qualquer ajuda é bem-vinda, claro, mas não sabemos se é suficiente. A disparidade de forças entre os dois lados pende muito pro ilegal. Mas…

E quanto ao futuro da vaquita?

“Não acredito que as últimas vaquitas possam sobreviver a outra temporada de pesca como vimos este ano”, diz Crosta. “Portanto, é fundamental agir agora com os comerciantes chineses no México e parar a cadeia de fornecimento, do mar  de Cortez, à China. Se, mais uma vez, focarem apenas nos pescadores, perderemos a vaquita. ”

Assista ao vídeo animação e conheça mais sobre a vaquita (O vídeo é de 2017, por isso informa ‘que ainda existem 50 animais’. Hoje, como foi dito, restam apenas 12).

 Fonte: Mar Sem Fim



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