Acompanhado de outros pesquisadores, Glauber
Gonçalves monitora as interações da laguna com o oceano e defende que as
dragagens forçadas não representam 2% do valor de sedimentos que os Molhes da
Barra draga a cada ano.
Hylton Martins mostra sete imagens de satélite da área, entre novembro de 2013 até fevereiro de 2015 de água vaza, inclusive, através dos próprios molhes Foto: Fábio Dutra.
Após matéria veiculada na edição da última terça-feira (5), na qual pesquisadores apontaram a dragagem do porto como sendo o principal agente causador do aparecimento de lama na Praia do Cassino, o professor da Universidade Federal do Rio Grande, Glauber Acunha Gonçalves procurou a reportagem do Agora para elucidar – através de dados recolhidos por cinco anos de monitoramento do local – que a dragagem, segundo ele, não é a causa da grande quantidade de lama.
Glauber
Gonçalves faz parte do Laboratório de Tecnologia da Geoinformação, trabalhando
há 25 anos na Furg, onde seu trabalho acadêmico é focado principalmente em
imagens de satélites, medidas aerotransportadas e mais recentemente também
realizando batimetrias e métricas meteo-oceanográficas no Porto do Rio Grande.
Após
anos de monitoramento, Gonçalves garante: “a dragagem forçada, executada pelos
movimentos de manutenção e aprofundamento, não representa 2% do que
naturalmente a obra portuária feita pelos franceses a 100 anos [Obra dos Molhes
da Barra] draga a cada ano. Ou seja, o sedimento que fica nas áreas de canal,
assoreando essa estrutura de navegação, é uma pequena parte do que o canal
(devido à sua configuração) joga pelos molhes”, explica.
Sobre o retorno do material da
dragagem até a beira da praia, Gonçalves acredita que não é correto afirmar tal
fato e até aponta tal presunção como “má fé”. “A quantidade dragada à força
[pelo processo de dragagem mecânica] é lançada na isóbata de 18 metros,
enquanto que o material despejado pelos molhes diariamente sai na frente da
praia. Acreditar que aquele, a quilômetros de distância, chega a praia
preferencialmente é má fé”, pondera.
Mudanças na hidrodinâmica
da Laguna e obra dos Molhes
Segundo o pesquisador, o processo
de despejo da lama é acelerado basicamente por dois fatores: o regime
hidrodinâmico da laguna e a obra do porto.
Sobre as características da laguna,
ele explica: “mais recentemente, os eventos da lama tornaram-se frequentes
porque a hidrodinâmica da lagoa vem mudando. Estamos com o regime de vazante
absurdamente dominante, por fatores ligados às mudanças climáticas globais e ao
uso intensivo das margens da Lagoa dos Patos, produzindo sua degradação e
aumentando o volume de água e sedimentos aportados por sua bacia sobre o
sistema”.
Essas mudanças hidrodinâmicas
associadas com a permeabilidade dos Molhes da Barra têm intensificado o
surgimento dos sedimentos lamacentos, segundo Gonçalves, “a obra do porto é o
canal, que foi construído sobre o naturalmente existente a mais de 100 anos, e
a estrutura dos molhes, feita para dragar naturalmente o estuário. Essa
intervenção não é natural, foi feita pelo homem, e está aí a um século. Dizer
que esse é o motivo da lama é o correto, mas não há o que fazer sobre isso,
pois sacrificar o canal seria condenar o Porto”, complementa.
Em uma das imagens LandSat
disponibilizadas pelo professor e entregues à reportagem pelo técnico Hylton
Martins, pode-se ver que o material sedimentar disperso na coluna d´água vaza,
inclusive, através dos próprios molhes tanto em imagens captadas duas semanas
antes do início da dragagem de 2013 como nas imagens mais atuais. "Em
alguns dias, como esse [da imagem], durante o ano, a lagoa lança [sem o uso da
draga] mais material do que em todo o evento de dragagem do Porto, diretamente
na frente da praia”, conclui Gonçalves.
Após as pesquisas e monitoramento –
integrantes de um trabalho do LTGeo que ainda está em execução, mas que já
possui grande quantidade de dados – verificou-se que em um dia de vazante média
de 0,82m/s o sistema lança mais material em suspensão do que a draga operando
durante em um mês. No total, a estimativa do volume depositado sobre a areia da
praia é de 372.082m³.
Gerar polêmica
Para Gonçalves, “motivos ainda
desconhecidos” estão fazendo teorias – segundo ele, sem provas científicas –
que associam a dragagem do canal com a lama tomarem uma grande proporção. Sobre
as assertivas que vinculam os dois acontecimentos, Gonçalves explica que
pesquisas são consolidadas sobre fatos medidos e não sob argumentos de
associação subjetiva de fenômenos.
Segundo Gonçalves, os motivos de se
fazer público tais teorias, envolvem interesses alheios à preservação
ambiental. “O interesse em polemizar sobre esse tema é bastante óbvio:
drenar recursos para projetos pessoais e político-partidários, a despeito do
prejuízo provocado para o Porto e para a comunidade”, conclui o
professor.
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