quinta-feira, 29 de março de 2018

Proantar está ‘gravemente ameaçado’ dizem pesquisadores brasileiros

A pesquisa brasileira nunca foi levada a sério. Sempre lutou contra ameaças por falta de investimentos. Mas agora a situação piorou. Pesquisadores dizem que o programa brasileiro na Antártica, o Proantar, está gravemente ameaçado em razão da crise financeira nacional.
Simulação da nova Base Comandante Ferraz em Rei George (Ilustração: Marinha do Brasil)

A matéria é de Herton Escobar, publicada pelo Estadão. Uma carta assinada por 17 lideranças científicas do programa, enviada na semana passada ao ministro da Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab, e ao comandante da Marinha do Brasil, Bacelar Ferreira, diz que
"Infelizmente não há recursos financeiros para compra de equipamentos científicos da estação e, mais grave, para o financiamento de projetos científicos e bolsas de estudos"
E isso pode acontecer justamente no ano em que o Brasil pretende inaugurar sua nova base na Antártica (2019), que custou US$ 100 milhões de dólares.

Incêndio na Base Ferraz em 2012

Este foi um ano trágico para o Brasil na Antártica. Três graves acidentes aconteceram. O incêndio que destruiu a antiga base, o afundamento de uma balsa da MB que levava óleo dos navios polares até a praia, e o naufrágio do Mar Sem Fim. De lá para cá o Proantar sofreu as consequências de não ter uma base fixa.
O Ary Rangel
 Nos verões, as poucas pesquisas eram feitas a bordo dos navios polares brasileiros, o Comandante Maximiliano, e o Ary Rongel. Enquanto isso, a nova base era construída. Agora, quando esta prestes a ser inaugurada, a falta de verbas ameaça a presença brasileira no Continente Branco.
O Comandante Maximiliano

Tratado Antártico

O país aderiu ao tratado em 1975. Em 1982 foi criado o PROANTAR, o Programa Antártico Brasileiro, já que o tratado exige que cada país membro do ICAR – Comitê Científico para Pesquisas Antárticas- realize “substancial atividade de pesquisa científica” para manter seu direito ao voto. Segundo o o glaciologista Jefferson Cardia Simões, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e vice-presidente do Comitê Científico para Pesquisas Antárticas,
"Não basta a presença militar, tem de haver ciência"

Último edital do PROANTAR

Herton Escobar explica que “o último edital federal dedicado à pesquisa antártica foi lançado em 2013, no valor de R$ 14 milhões, para financiar 19 projetos por três anos – dinheiro liberado com três anos de atraso e já esgotado, segundo os cientistas. Um dos Institutos Nacionais de Ciência Tecnologia (INCTs) dedicados à Antártida encerrou suas atividades neste mês e o outro, chamado INCT da Criosfera, foi renovado até 2022, mas só tem recursos para mais uma operação antártica”

Apelo dos cientistas

"Rogamos a vossas excelências que sejam estudadas ações emergenciais para darmos continuidade às pesquisas científicas na Antártida e não tenhamos a situação insólita de uma casa antártica sem cientistas"
Assim termina a carta, obtida com exclusividade pelo Estado.

‘A ciência na pode pagar a conta’

Herton escreveu: “Casa vazia não faz ciência”, resume Simões. O resultado, diz, pode ser uma estação científica com alma do Mané Garrincha, em Brasília: um estádio de futebol sem futebol, bonito por fora e vazio por dentro. Segundo ele, “a ciência não pode pagar a conta” de uma estação com finalidades mais geopolíticas do que científicas.

O desabafo do cientista

Pelas palavras de Cardia,  “a ciência não pode pagar a conta de uma estação com finalidades mais geopolíticas do que científicas”, demonstra que a falta de verbas não é novidade. Mas, pará-las totalmente seria uma decisão mesquinha e mixa do governo brasileiro. Não podemos permitir que isso aconteça. Não só a presença brasileira é fundamental, como as pesquisas que, a despeito da eterna falta de verbas, sempre foi das mais respeitadas entre os países ditos ‘em desenvolvimento’.

O Mar Sem Fim espera que vença o bom senso. O Brasil não pode ficar fora da Antártica!

Fonte: Mar Sem Fim

 

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