Cientistas acompanham de perto deslocamento de um dos maiores blocos de gelo a se desprender do continente gelado.
Por BBC
O iceberg gigante que se desprendeu na Antártica na última semana
continua se deslocando para o mar aberto. Imagens de satélite mostram
uma fenda entre o bloco de gelo de seis mil quilômetros quadrados,
batizado de A-68, e a plataforma gelada Larsen C.
O satélite Deimos-1 capturou a imagem na sexta-feira (14), o que não é
fácil nesta época do ano na Antártica, por causa de suas longas noites
de inverno cobertas de nuvens. A espaçonave que conseguiu avistar o
iceberg usou radares e sensores infravermelhos para superar essa
limitação.
Até agora, o bloco de gelo, que tem uma área um pouco maior que o
Distrito Federal e é um dos maiores já registrados, está se comportando
como esperado por cientistas. Em teoria, ele deveria deslizar para o mar
pelo declive formado pela ação de águas empurradas contra a costa pelos
ventos do Mar de Weddell.
Mas por conta da força de Coriolis, produzida pela rotação da Terra, o
iceberg é empurrado para a esquerda - o lado contrário -, e isto deve
manter o bloco relativamente próximo à fronteira do continente gelado.
Na imagem do satélite Deimos, parece que um bloco de "gelo permanente"
(a área de mar congelada ao longo da costa), antes grudado ao iceberg,
agora se soltou. Este gelo permanente é consideravelmente mais fino que o
bloco principal e tem poucos metros de espessura (enquanto que o
iceberg tem 200 metros a mais).
Thomas Rackow e colegas do Instituto Alfred Wegener, do Centro
Helmholtz para Pesquisa Marinha e Polar, está acompanhando de perto o
movimento do bloco.
Eles recentemente publicaram uma pesquisa na qual modelaram o
deslocamento de icebergs nas águas da Antártica - levando em conta os
diferentes fatores que agem sobre objetos grandes e pequenos. Existem
basicamente quatro "rodovias" pelas quais os icebergs viajam, dependendo
de seu ponto de origem.
O A-68 deve seguir pelo caminho rumo à costa leste da Península Antártica, desde o Mar de Weddell até o Atlântico.
"Ele deve provavelmente seguir um curso rumo ao nordeste, em direção
mais ou menos ao Mar da Geórgia e às Ilhas Sandwich do Sul", afirmou
Rackow à BBC News. "Será muito interessante ver se o iceberg se
movimentará como esperado, comprovando os modelos atuais e nossa
compreensão da física".
Agências de pesquisa polar já estão discutindo as oportunidades científicas que surgem do desprendimento do iceberg.
Cientistas querem entender qual efeito a quebra do bloco de gelo deve
ter sobre as áreas remanescentes da cobertura gelada. Dez por cento da
área do Larsen C foi removida com a quebra do iceberg, e essa perda pode
mudar a forma como as tensões e forças internas da plataforma de gelo
irão se configurar e agir.
Há várias fissuras ao norte, em um ponto conhecido como Elevação de
Gelo Gipps. Essas fissuras estão estáticas há muito tempo e são mantidas
por uma faixa de gelo relativamente macia e maleável.
Pesquisadores
querem ver se o rompimento da A-68 irá alterar o status dessas fissuras.
Há ainda pesquisas fascinantes para serem feitas no fundo do mar quando
o iceberg se deslocar totalmente da plataforma. Fissuras anteriores
levaram, por exemplo, à descoberta de novas espécies de animais.
FONTE: G1/NATUREZA
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