terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Paulo Nogueira Neto, titã do ambientalismo brasileiro

Paulo Nogueira Neto, titã do ambientalismo brasileiro, morre em São Paulo aos 96

Assim como Humboldt, entre muitas outras coisas, dr. Paulo foi um naturalista, profissão tão comum nos séculos passados. Ele está ao lado de gente como Darwin, Saint- Hilaire, Augusto Ruschi, Carl Linnaeus, e tantos outros. Paulo Nogueira Neto também se formou pela Faculdade de Direito da USP, onde tronou-se bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, em 1945. Foi depois deste, que dr. Paulo  decidiu ir além, e cursar História Natural, na Faculdade de Filosofia e Letras, concluindo em 1959. Pela escolha dos cursos fica claro sua antevisão. Tinha certas paixões, como as abelhas indígenas sem ferrão. Publicou vários trabalhos sobre elas. Paulo Nogueira Neto foi o primeiro ‘ambientalista’ brasileiro, na acepção moderna da palavra. Para este homem culto e sensível, ‘um dos mais importantes problemas ambientais é a erradicação da miséria’.
Paulo Nogueira Neto. Imagem: Francisco Emolo / Jornal da USP.
 

1972, uma conferência muda a cabeça do mundo

A Conferência de Estocolmo foi a primeira grande reunião de chefes de estado organizada pelas Nações Unidas (ONU) para tratar das questões relacionadas à degradação do meio ambiente. Foi realizada em  junho de 1972, na capital da Suécia. A Conferência foi um marco na procura da melhoria das relação entre os seres humanos e o meio ambiente. No Brasil, à época vigorava a ditadura militar, e um de seus dogmas mais fortes era Amazônia,’integrar para não entregar’. Foi então que o naturalista entrou em cena…

Como o Dr. Paulo Nogueira Neto convenceu os militares a criarem um ministério de Meio Ambiente em plena ditadura

Recentemente O Estado de S. Paulo publicou brilhante artigo do professor emérito da USP, José Goldenberg. A propósito do drama em Brumadinho, com suas 310 mortes. Ele falava em como o atual governo pensa do mesmo modo que os militares de então. “A reorganização administrativa promovida em janeiro levou à extinção e realocação de várias áreas ligadas a questões ambientais, o que indicava uma visão desenvolvimentista em que o licenciamento ambiental parece ser um obstáculo ao desenvolvimento.” Ao organizar os fatos de então, Goldenberg, sem o saber, acaba por escrever o mais lindo necrológio do Dr. Paulo Nogueira Neto. “Essa era explicitamente a visão do governo militar em 1972, por ocasião da primeira Conferência Internacional sobre Meio Ambiente, em Estocolmo, que levou à criação de Ministérios do Meio Ambiente (ou órgãos equivalentes) na maioria dos países do mundo. A visão do governo na época era a de “desenvolver primeiro” e se preocupar depois com as consequências sociais e ambientais decorrentes.” Então…

Paulo Nogueira Neto e Garrastazu Médici

“Apesar disso, o professor Paulo Nogueira Neto conseguiu convencer o presidente Médici a criar, em 1973, a Secretaria Especial do Meio Ambiente (Sema) no Ministério do Interior, à frente da qual permaneceu até 1985 e onde conseguiu introduzir toda a legislação e os órgãos administrativos da área ambiental no País. A criação da Sema deveu-se mais ao prestígio pessoal de Paulo Nogueira Neto, integrante de tradicional família paulista (é descendente de José Bonifácio, o Patriarca da Independência), e sua reputação científica do que a uma compreensão clara da necessidade do governo militar de conciliar desenvolvimento com proteção ambiental.”

Consequências da ação de Paulo Nogueira Neto

“Ele era visto com reservas por grupos interessados na expansão da ocupação da Amazônia, mas com seu perfil não confrontacional conseguiu introduzir no País legislação ambiental moderna, copiada de países da Europa e dos Estados Unidos. O melhor exemplo é o da criação da Companhia Estadual de Tecnologia e Saneamento Ambiental (Cetesb), em São Paulo. O sucesso em resolver o problema ambiental de Cubatão, no governo Montoro (1986-1989), deu à Cetesb estatura e prestígio para enfrentar outros desafios.”
Paulo Nogueira Neto. Imagem: Canal Brasil/Reprodução.

Goldenberg finaliza dizendo que, “isso não ocorreu, contudo, em muitos outros Estados e certamente não no governo federal, em que órgãos como o Ibama frequentemente não tiveram apoio para pôr em prática a excelente legislação criada por Paulo Nogueira Neto.” Daí, Brumadinho, conclui. Na cota pessoal de áreas protegidas de Paulo Nogueira Neto estão cerca de 3,5 milhões de hectares! Ele foi ainda criados das estações ecológicas, e do CONAMA.

Reconhecimento nacional e internacional

Não havia quem não reconhecesse o mérito de Paulo Nogueira Neto. Entre muitos outros ele ganhou Prêmio Paul Getty, láurea mundial no Campo de Conservação da Natureza, em 1981. Foi eleito duas vezes vice-presidente do programa “O homem e a biosfera (MAB)”, da Unesco. Em 1983, alcançou o posto de presidente do programa. Foi ainda homenageado com a Ordem de Rio Branco (do Brasil) e com a Comenda da Arca Dourada, dos Países Baixos. Já no ano de 1997, ele recebeu o Prêmio Duke of Edinburgh, da WWF Internacional. Paulo Nogueira ainda  atuou no Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), no Conselho do Meio Ambiente (Cades) da Prefeitura de São Paulo e no Conselho de Administração da Companhia Ambiental do estado (Cetesb).

O Mar Sem Fim e Nogueira Neto

O Mar Sem Fim não poderia NÃO homenagear este titã do ambientalismo tupiniquim. Estivemos em sua casa poucos anos atrás, cercada por um bosque de Mata Atlântica, onde o entrevistamos. Abaixo, a primeira parte desta entrevista. Nela, o professor comenta sobre as abelhas, as dificuldades em convencer o regime militar a criar a SEMA; e ainda histórias engraçadas do tanto que teve que ‘dançar’ pra evitar que os militares construíssem usinas nucleares na Estação Ecológica da Juréia, uma das glórias do litoral brasileiro; e ainda tem a participação dele na Comissão Brundtland. Também nesta entrevista, Nogueira Neto alerta para as consequências do fracasso da Conferência do Clima de Paris.
Agora, a segunda parte. Nela, Nogueira Neto fala de licenciamento ambiental, e explica porque “um dos mais importantes problemas ambientais é a erradicação da miséria.” Nogueira Neto também comentou o governo Dilma versus a questão do meio ambiente.


Fonte: Mar Sem Fim 

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Mancha de lixo do Pacífico e portas de saída?

Mancha de lixo do Pacífico: primeiro teste com barreira, inventada por garoto, não foi sucesso

Quase todos os oceanos têm manchas estáticas de plástico. O Atlântico Norte, e o Sul; o Índico, e o Pacífico Sul. Entretanto, a mancha de lixo do Pacífico é considerada a pior de todas em volume e tamanho.
Foto: share in america org

A Mancha de lixo do Pacífico

Conduzido pelas correntes marinhas em interação com o movimento de rotação da Terra, qualquer tipo de lixo plástico, dos países banhados pelo Pacífico Sul, acabam se juntando a outros num ponto remoto do Pacífico onde, de acordo com cientistas, a massa de lixo “tem o tamanho de 680 mil quilômetros quadrados, o que equivale aos territórios de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo somados”.

Oceanos: ainda tratados como lata de lixo da humanidade

Ilustração: operamundi

 

A mancha do Pacífico, por seu gigantismo, é uma prova cabal que os oceanos continuam a ser tratados como “lata de lixo da humanidade”. Seja por gravidade, “tudo que é produzido pela humanidade acaba parando no mar”, ou por descuido. O problema é gravíssimo, a ponto de haver hoje uma convergência mundial para tentar diminuir os impactos negativos. Tudo começou quando cientistas descobriram que desde a sua invenção, nos anos 50 do século passado, apenas 9% de todo o plástico produzido foi reciclado. Esta triste realidade espantou até mesmo os grandes produtores mundiais, que se juntaram para criar uma aliança para o fim dos resíduos plásticos.

Todos os anos oito milhões de toneladas de plástico vão parar nos oceanos

Recente pesquisa da Ellen MacArthur Foundation estima que haja mais de 150 milhões de toneladas de material plástico nos oceanos. A Pesquisa indica que, se as condições forem mantidas, haverá mais plástico que peixes em 2050.
Foto: ambro2003 blogspot.com
Mas, pior que apenas o lixo marinho, é o microplástico, tão pequeno, como indica o nome, que sequer é visível a olho nu. É preciso coletar água do mar e examiná-la em laboratórios para a comprovação. Pesquisas indicam que 85% do lixo marinho provém de microfibras e microplástico. E para este problema ainda não há solução no horizonte.

Mancha de lixo do Pacífico: hecatombe produzida pela nossa geração

O plástico, e materiais assemelhados, se tornam partículas que vão parar no estômago de animais e aves marinhas
Pela crença que a mancha de lixo seria estática, cientistas já estudavam maneiras de diminuir seu tamanho e impacto. Até a ONU entrou na briga e lançou uma campanha. Enquanto isso, vários países adotaram severas medidas contra o material, exceção até agora, ao Brasil, infelizmente.
Peixes e aves acabam ‘se alimentando’ com pedaços de plástico. Foto: jorgetioosala worldpress.com

Guerra contra o plástico

Mas não são apenas as organizações mundiais, ou os produtores, que se preocupam e propõem soluções. Quase toda semana surge alguma nova ideia para remediar a situação. Por exemplo, cientistas estudam produzir bactérias que comam o plástico; cientistas de Harvard estudam produzir bioplástico a partir da casca de camarões; e até um milionário, que deve muito de sua fortuna aos oceanos, lançará em breve um barco para estudar os oceanos, e recolher plástico.
Foto: Fortmyersbeachfi.gov
Uma destas ‘soluções’ vem do holandês Boyan Slat, 24 anos, um garoto que se impressionou ao mergulhar e ver a brutal quantidade de plástico em seu périplo submarino.
Ilha de plástico em Cabo Verde

Visualização da NASA sobre as correntes marinhas e respectivas manchas de lixo dos oceanos

Invenção promete limpar a mancha de lixo do Pacífico

Boyan Slat inventou um sistema de coleta quilométrico que visa limpar o Oceano Pacífico. O dispositivo com cordões extremamente longos e âncoras flutuantes almeja eliminar a chamada “Grande Mancha de Lixo do Pacífico“.
Veja como funciona:

Primeiro teste aconteceu no final de 2018 e não foi um sucesso

O primeiro sistema flutuante de limpeza oceânica, implantado para coletar a poluição por plásticos da grande mancha do Pacífico, foi retirado do serviço logo depois de ter se separado durante a operação entre o Havaí e a Califórnia. Ele foi lançado pela ONG  The Ocean Cleanup, trata-se de uma barreira com 600 metros e 80 mil toneladas que pretende recolher os plásticos dos oceanos, trazê-los para terra e reciclá-los. A organização garante que os peixes não vão ser aprisionados pela barreira, como acontecerá com o lixo, eles conseguem escapar pela rede ou desviarem-se do caminho. Novas testes serão feitos em 2019. Estamos na torcida!
Assista ao vídeo e saiba como funciona

Fonte: Mar Sem Fim

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Aliança para o Fim dos Resíduos Plásticos, conheça

Aliança para o Fim dos Resíduos Plásticos, finalmente o mundo dá as mãos

O problema é seríssimo, e mundial. Jamais será resolvido se não houver participação global. Parece que 2019 chega trazendo notícias auspiciosas para o drama do plástico. O material, inventado nos anos 50 do século 20, trouxe enormes benefícios, por um lado; mas terríveis prejuízos, de outro. De todo o plástico produzido no mundo, em 65 anos desde a sua invenção, apenas 9% foi reciclado. Onde está o resto? Nos oceanos, e em aterros mundo afora. O plástico não se desfaz, foi o grande aprendizado de 2018, depois de inúmeros alertas da comunidade científica mundial. Para combater esta ‘chaga’ da nossa era, este ano trouxe a novidade, a Aliança para o Fim dos Resíduos Plásticos (AEPW, na sigla em inglês).
 

O que é a Aliança para o Fim dos Resíduos Plásticos

É a união de cerca de 30 empresas tidas como ‘gigantes’ globais (setores plástico e bens de consumo), de quase todos os continentes, Américas, Europa, Ásia, África e Oriente Médio, e investimentos previstos de US$ 1,5 bilhão de dólares nos próximos cinco anos visando livrar o descarte incorreto do plástico, principalmente, mas não apenas, nos oceanos. Na palavra da AEPW, “somos uma organização sem fins lucrativos, em parceria com a comunidade financeira, governo e sociedade civil, incluindo ONGs de desenvolvimento ambiental e econômico. Estamos trabalhando para tornar realidade o sonho de um mundo sem lixo plástico.” David Taylor, o chefão do grupo (e presidente da P&G), declarou: ““Todos concordam que os resíduos de plástico não pertencem aos nossos oceanos ou qualquer outra parte do meio ambiente. Este é um desafio global, complexo e sério que exige uma ação rápida e uma liderança forte. Essa nova aliança é o esforço mais abrangente até o momento para acabar com o lixo plástico no ambiente. Peço a todas as empresas, grandes e pequenas e de todas as regiões e setores, que se juntem a nós.”

As cinco ‘verdades’ da Aliança para o Fim dos Resíduos Plásticos

No site da milionária nova ONG há uma página dedicada às verdades por eles elencadas, que são:
Fato Nº 1: Apenas dez rios transportam mais de 90% dos plásticos do rio para o oceano.
Fato Nº 2: 80% do plástico oceânico vem de fontes terrestres.
Fato Nº 3Mais de metade do vazamento de resíduos de plástico em terra vem de apenas cinco países, China, Indonésia, Vietnam, Filipinas, Tailândia.
Fato Nº 4: A pesquisa identificou as mais significativas fontes de resíduos plásticos não gerenciados e aspectos-chave da solução.
Fato Nº5Substituir plásticos em embalagens e produtos de consumo com materiais alternativos pode elevar os custos ambientais quase quatro vezes.

A divisão do descarte de plástico por países, segundo a AEPW

Para a Aliança para o Fim dos Resíduos Plásticos, a divisão do plástico por países é a que segue abaixo.

Origem por país de resíduos plásticos não gerenciados em 2010 (toneladas métricas). As fontes são, Universidade da Geórgia; Universidade da Califórnia; Associação de Educação Marinha. Abaixo, a parte que compete ao Brasil e aos Estados Unidos.
 Finalmente, os maiores vilões, China e Indonésia.

Elencados os problemas, a AEPW propões soluções

Algumas das estratégias: fazer parcerias com prefeituras, de modo a criar sistemas integrados de gestão de resíduos; desenvolver um banco de dados global; colaborar com organizações internacionais como a ONU; e o mais difícil, custear redes de incubadoras para desenvolver tecnologias e modelos de negócios que trabalhem com reciclagem (ao nosso ver o grande drama é a reciclagem) ou impedindo o descarte nos oceanos. E ainda, dar apoio à iniciativa Renew Oceans, para incentivar investimentos e engajamento regional. O programa tem o objetivo de capturar os resíduos plásticos antes que cheguem ao oceano, nos 10 rios que transportam a maior parte destes resíduos. Faz parte da estratégia, ainda, a educação e engajamento de governos, empresas e comunidades para incentivar ações.

Os fundadores da Aliança para o Fim dos Resíduos Plásticos

A lista é de fazer brilhar os olhos de qualquer um:   a brasileira Braskem, BASF, Berry Global, Chevron Phillips Chemical Company LLC, Clariant, Covestro, CP Group, Dow, DSM, ExxonMobil, Formosa Plastics Corporation USA, Henkel, LyondellBasell, Mitsubishi Chemical Holdings, Mitsui Chemicals, Nova Chemicals, OxyChem, PolyOne, Procter & Gamble, Reliance Industries, SABIC, Sasol, Suez, Shell Chemical, SCG Chemicals, Sumitomo Chemical, Total, Veolia e Versalis (Eni).

Fonte: Mar Sem Fim

Aquecimento global: Planeta Azul ficará ainda mais azul à medida que Terra esquenta

Estudo projeta como será cor do oceano no final do século baseado em medições feitas por satélites de luz refletida pelo fitoplâncton, minúsculos organismos na base da cadeia alimentar marítima.
Cientistas dizem que a água do oceano deve ficar mais azul nas próximas décadas — Foto: Pixabay


O aumento das temperaturas mudará a cor dos oceanos do mundo, tornando-os mais azuis nas próximas décadas, dizem cientistas. Eles descobriram que o aquecimento global alterará a presença de fitoplâncton, os minúsculos organismos marinhos que absorvem e refletem a luz.
Frio e calor extremos podem causar queimaduras, congelamentos e outros problemas de saúde


Os cientistas dizem que haverá menos deles nas águas nas próximas décadas. Isso levará a uma mudança de cor em mais de 50% dos mares do mundo até 2100.

O fitoplâncton desempenha um papel extremamente importante nos oceanos.

Além de transformar a luz solar em energia química e consumir dióxido de carbono, eles estão no primeiro degrau da cadeia alimentar marinha.
Eles também desempenham um papel importante na forma como vemos os oceanos com nossos olhos.
Quanto mais fitoplâncton houver na água, menos azul será o mar. O mais provável será uma cor esverdeada.

Leia a reportagem completa em
G1 Ciência e Saúde

Fonte: G1 via BBC, de 05/02/2019