terça-feira, 28 de junho de 2016

Workshop TOMADA DE DECISÃO SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS, RISCOS E GESTÃO - EVENTOS EXTREMOS E DESASTRES AMBIENTAIS

28 e 29 junho 2016
08h30 às 17h30

Local: sala de seminários do IEE/USP - Av. Prof. Luciano Gualberto, 1.289, Cidade Universitária, Butantã - prédio S
 
Saiba mais em IEE USP

Fonte: Mensagem enviada pela Secretaria do IO/FURG em 27/06/2016

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Vegetação de 7 mil anos corre risco de sumir em 3 décadas, aponta estudo

Pesquisa mostra que o cerrado na região de Campo Mourão está acabando.
Perda de biodiversidade, diz professor, é bastante prejudicial à humanidade.

Cerrado em Campo Mourão, hoje, é quatro vezes menor do que há 5 mil anos (Foto: Lepafe/Arquivo)

Há em Campo Mourão, no centro-oeste paranaense, árvores e plantas tão velhas quanto é grande o risco de elas sumirem do mapa bem logo, concluíram pesquisadores da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), em parceira com a Universidade Estadual de Maringá (UEM).
A área de cerrado, ali, é quase 14 vezes mais antiga do que o "descoberto" Brasil, encontrado por desbravadores portugueses em 1.500 — amostras apontam que a vegetação presente no local tem mais de 7,2 mil anos de existência —, e pode sumir em menos de três décadas, se não houver mudanças drásticas de comportamento humano, conforme os estudos.
No entanto, vestígios do passado ainda estão lá, em um bioma cada vez mais raro, e foram usados para as pesquisa feitas no Laboratório de Estudos Paleoambentais da Fecilcam (Lepafe), pertencente à universidade paranaense.
O estudo foi feito a partir do pólen de um pequi — árvore típica do planalto central brasileiro - e demonstra que a região, que era predominantemente de cerrado, bioma brasileiro importantíssimo para o desenvolvimento de soluções medicinais, está se modificando rápido demais.
O material colhido, diz o professor Mauro Parolin, coordenador do laboratório, pode revelar importantes respostas (e novos questionamentos) sobre clima, vegetação e condições ambientais.
"Essas pesquisas, numa época em que temos tantos extremos climáticos e discutimos tanto o aquecimento global, são extremamente importantes. O entendimento de processos do passado podem nos dar respostas para o presente e para o futuro", afirma o pesquisador.
 Fotografia de 1926 mostra o cerrado intacto da região de Campo Mourão (Foto: Alexandre Linzmayer/Arquivo)
Do cerrado, Campo Mourão tem dado espaço, com o passar dos anos, a florestas úmidas e cada vez mais quentes, explica Parolin. Antigamente, as secas eram mais severas e o clima era bem mais frio. O problema é que, com a mudança, morre também a biodiversidade.
"Com a perda da área de cerrado, perdemos também a biodiversidade. Isso é péssimo. Perder biodiversidade significa perder espécies. Precisamos mantê-las, para que tenhamos o conhecimento mais profundo de alguma plantas que podem virar princípios medicinais", comenta o professor.
Hoje, o cerrado na região de Campo Mourão é aproximadamente quatro vezes menor do que há 5 mil anos. A área ainda é grande, apesar da redução — cerca de 102 quilômetros quadrados. Mesmo assim, isso não a impede de desaparecer cedo.

 Árvores típicas do cerrado são importantíssimas para a medicina (Foto: Lepafe/Arquivo )
Para o professor do Lepafe, as pesquisas são o primeiro passo para que consigamos preservar o meio ambiente e os biomas importantes aos seres humanos. Entretanto, é preciso que existam políticas públicas que mantenham, efetivamente, a natureza preservada.
"Tem que existir mais vontade política para mudar a situação, no sentido de dar mais atenção àquilo que as universidades têm produzido. As pesquisas só são efetivas se houver ação. Precisamos, urgentemente, de políticas públicas voltadas, efetivamente, à preservação do meio ambiente", comenta Parolin.

Fonte :Erick Gimenes do G1 PR




 

 

quarta-feira, 22 de junho de 2016

APA Lagoa Verde

Lixo Marinho

Espécies Ameaçadas: Tubarões e Raias

Espécies Ameaçadas: Mamíferos marinhos

Espécies Ameaçadas: Garoupa Verdadeira (Epinephelus marginatus)

Sangradouros

Vídeos relacionados ao Projeto de Divulgação e Popularização da Ciência (MCTI/CNPq/SECIS Nº 90/2013)

A produção dos vídeos foi um dos 3 objetivos propostos pelo projeto e que resultou em 5 vídeos de curta duração  (entre 4-7 min.) e material para mais outros 4-5 vídeos a serem editados. Cada vídeo aborda um tema diretamente relacionado a oceanografia, e que em muitos os casos pode ser considerado regional/nacional.
Os vídeos podem ser usados em aulas e divulgados para todos (outras Universidades, amigos, parentes, etc..).
Quanto mais divulgar, melhor!

Abaixo os temas abordados :
Sangradouros
Publicado em 20 de jun de 2016
Neste vídeo os professores Dr. Lauro Calliari e Dr. Alexandre Garcia (Instituto Oceanográfico - FURG) nos contam um pouco da importância geológica e ecológica dos “sangradouros”, feições morfológicas comuns nas praias arenosas de todo o litoral do Rio Grande do Sul.

Espécies Ameaçadas: Garoupa Verdadeira (Epinephelus marginatus)

Publicado em 20 de jun de 2016
Neste primeiro vídeo da série "Espécies Ameaçadas", o professor Dr. Alexandre Garcia (Instituto Oceanográfico - FURG) nos fala um pouco da biologia, riscos e status de conservação da garoupa-verdadeira (Epinephelus marginatus), uma espécie comum no litoral brasileiro e emblemática para a região 


Espécies Ameaçadas: Mamíferos marinhos https://www.youtube.com/watch?v=CezpvRjLpDg

Publicado em 20 de jun de 2016
Neste segundo vídeo da série "Espécies Ameaçadas", o professor Dr. Eduardo Secchi (Instituto Oceanográfico - FURG) nos fala dos riscos e status de conservação dos mamíferos marinhos que vivem na região costeira do Rio Grande do Sul, além dos estudos que estão sendo realizados para identificar os impactos e formas de mitigá-los.


Espécies Ameaçadas: Tubarões e Raias https://www.youtube.com/watch?v=qisZxztF-ac

Publicado em 20 de jun de 2016
Neste terceiro vídeo da série "Espécies Ameaçadas", a aluna de doutorado Msc. Rayd Ivanoff (Instituto Oceanográfico - FURG) nos fala dos riscos e status de conservação das principais espécies de tubarões e raias encontradas no litoral sul do Rio Grande do Sul e das principais medidas de manejo adotadas para este grupo de peixes que sofre severo impacto da pesca.

Lixo Marinho   https://www.youtube.com/watch?v=9Faxu4fxOXo

Publicado em 21 de jun de 2016
Neste vídeo os professores Dra. Maíra Proietti e Dr. Fábio Lameiro (Instituto Oceanográfico - FURG) e a Oceanóloga Paula Canabarro (CRAM – Museu Oceanográfico/FURG) nos contam um pouco a respeito dos impactos causados pelo “Lixo Marinho”nos ecossistemas costeiros e na biota marinha.

Fonte: Mensagem enviada pela Equipe do projeto (Dr. Fábio Lameiro, Dr. João Vieira, Dr. Mario Condini e Dra. Renata Mont'Alverne) a secretaria do IO/FURG em 22/06/2016

 

 


 

 

 


 



Oficina de formação do Conselho Gestor da APA da Lagoa Verde

O Projeto APA da Lagoa Verde: Educação Ambiental no processo de Gestão Ambiental, realizado pelo NEMA em parceria com a Secretaria de Município de Meio Ambiente, convida à todo(a)s a participarem da 5ª oficina do processo de formação do Conselho Gestor da APA da Lagoa Verde.
A oficina ocorrerá no dia 25/06/16 , às 8h30 na sede da EMEI Deborah Thomé Sayão (localizada no Parque Urbano do Bolaxa).


Fonte: Secretaria do IO/FURG, mensagem enviada em 21/06/2016

terça-feira, 21 de junho de 2016

Links para acesso às dissertações e teses da área de Oceanografia inseridas na Biblioteca Digital de Dissertações e Teses (BDTD) da FURG de janeiro a junho de 2016






Abraão Martins Terceiro. Cartas de sensibilidade ambiental ao derramamento de óleo: uma análise no contexto da justiça ambiental.    http://www.argo.furg.br/?BDTD10474

Bárbara Luísa Martins Mariano de SouzaA potencialidade do turismo de base comunitária enquanto medida mitigadora e compensatória das atividades marítimas de P&G : um estudo de caso na comunidade de Mandira - Cananéia/SP.  http://www.argo.furg.br/?BDTD10888

Brenda da Silveira Wilke. Governança ambiental e gerenciamento costeiro: caso da cidade de Fortaleza/CE.  http://www.argo.furg.br/?BDTD10895

Bruna Ost Mergen.  Análise crítica do Zoneamento Ecológico-Econômico Costeiro (ZEEC)

Caio Cavalcanti Dutra Eichenberger. Diagnóstico participativo no planejamento e ordenamento territorial de Unidades de Conservação: o caso da Estação Ecológica do Taim. http://www.argo.furg.br/?BDTD10896

Carlos Vinicius da Cruz Weiss. Análise locacional e estimativa da capacidade de suporte para a expansão sustentável da energia eólica na zona costeira do extremo sul do Brasil. 

Évellin Keith da Collina. Análise crítica da rotulagem ambiental como elemento transformador da pesca artesanal.   http://www.argo.furg.br/?BDTD10404

Gisele Costa Fredo.  A municipalização do licenciamento ambiental nos municípios de Arroio Grande, Jaguarão, Rio Grande e São José do Norte/RS.  http://www.argo.furg.br/?BDTD10900 

Guilherme Castro da Rosa Quintana. Avaliação geoquímica da poluição das águas subterrâneas por mercúrio na cidade do Rio Grande.  http://www.argo.furg.br/?BDTD10915

Janaína Paraguaçu Adelio. Subsídios para um plano de gestão do trânsito de veículos na praia do Cassino, Rio Grande - RS. http://www.argo.furg.br/?BDTD10472

João Paulo Martins Marques. Análise da participação no gerenciamento costeiro integrado (GCI) a partir da percepção dos atores locais : estudo de caso do projeto de requalificação da Avenida Beira Mar, Fortaleza - CE.  http://www.argo.furg.br/?BDTD10917 

Letícia de Magalhães Bandeira. Bases de informação para um novo Plano de Desenvolvimento e Zoneamento para o Porto de Pelotas/RS.   http://www.argo.furg.br/?BDTD10399 

Lucas Terres de Lima. A paisagem costeira do Rio Grande do Sul: leitura e interpretação das propriedades fisionômicas do espaço como estratégia de planejamento e gestão do território.

Maria Elena Yanarico Mamani. Los pescadores tradicionales de Laguna Grande y su relación con el desarrollo del turismo en la Reserva Nacional de Paracas zona costera sur del Perú.

Paula Lima Canabarro. Os procedimentos de proteção à fauna no contexto dos planos de emergência das atividades de exploração e produção de petróleo e gás no Brasil. http://www.argo.furg.br/?BDTD10864

Renan Alves Conceição. O Projeto Orla enquanto instrumento de política pública para a zona costeira: um estudo de caso na cidade do Rio Grande.  http://www.argo.furg.br/?BDTD10920

Renato Jesus Morales Carpio. Las políticas públicas y los pescadores tradicionales de Laguna Grande en la Reserva Nacional de Paracas zona costera sur del Perú.  http://www.argo.furg.br/?BDTD10887

Rosane Nauderer. Avaliação do telamento das margens da rodovia, como medida para redução de atropelamento de capivaras (Hydrochoerus hydrochaeris) na Estação Ecológica do Taim-RS.

Rosani Sola Bobadilho.  A problemática dos rios urbanos costeiros : entraves e possibilidades para a qualidade ambiental e social.  http://www.argo.furg.br/?BDTD10865 



Andrielli Maryan Medeiros. Ocorrência sazonal relacionada a fatores ambientais da raia Manta birostris (Walbaum, 1792) no Complexo Estuarino de Paranaguá, sul do Brasil.
http://www.argo.furg.br/?BDTD11007

Carolina Antuarte Islabão. Dinoflagelados planctônicos do extremo sul do Brasil:identificação, distribuição e relação com fatores abióticos in situ e in vitro. http://www.argo.furg.br/?BDTD10727

Fernando Roberto Gulherme Silveira. Estimativa da abundância de mamíferos marinhos através da amostragem de distância com detecção imperfeita.  http://www.argo.furg.br/?BDTD10728

Gabriela Amaral de Rezende. Avaliação do impacto da pesca de arrasto artesanal do camarão-rosa Farfantepenaeus paulensis (PÉREZ FARFANTE, 1967), no estuário da Lagoa dos Patos.

Ígor Emiliano Gomes Pinheiro. Mesopredadores no ambiente demersal bentônico raso do Arquipélago São Pedro e São Paulo.  http://www.argo.furg.br/?BDTD10606

Juliana Couto Di Tullio. Uso do habitat por cetáceos no sul e sudeste do Brasil. http://www.argo.furg.br/?BDTD10726

Marie-Christine Rufener. Modelagem Bayesiana para predição espacial dos habitats essenciais do Ariocó Lutjanus synagris na costa do Rio Grande do Norte. http://www.argo.furg.br/?BDTD10796

Mauricio Lang dos Santos.  A importância da tainha (Mugil liza) na pesca cooperativa entre golfinhos (Tursiops truncatus) e pescadores de tarrafa em Tramandaí, RS. http://www.argo.furg.br/?BDTD10797 

Mauro César Lamim Martins de Oliveira. O uso de riachos litorâneos por juvenis de tainha (Mugil liza) e seu papel na conectividade trófica do ambiente marinho e continental.

Micheli Duarte de Paula Costa. Ictioplâncton e a conservação de regiões costeiras: o caso do estuário da Lagoa dos Patos.  http://www.argo.furg.br/?BDTD10550

Paloma Lumi Costa. Condicionantes ambientais e as relações entre Engraulis anchoita, zooplâncton e aves marinhas na Plataforma Continental do Rio Grande do Sul, Brasil.

Valeria Marques Lemos. Determinação do estoque e ciclo de vida da tainha Mugil liza (Teleostei Mugilidae) no sul do Brasil. http://www.argo.furg.br/?BDTD10626

Vinicius Mendes Ruas. Abundância de Farfantepenaeus paulensis (PÉREZ FARFANTE, 1967) e captura incidental de Callinectes sapidus RATHBUN, 1896 no estuário da Lagoa dos Patos, RS.














 



Yara Schaeffer Novelli: No atoleiro do manguezal

Transitando entre ecologia, políticas públicas e educação, a aposentadoria não é motivo para repouso

 A paixão de Yara Schaeffer Novelli pelos manguezais está longe de ser romantismo diante de uma paisagem bucólica ou de animais peculiares. Sua visão abrange a paisagem, a flora, a fauna, o mar, a terra, as pessoas, a economia, a legislação. Para ela, o ecossistema na fronteira entre o continente e o oceano, que funciona como berçário para uma infinidade de organismos marinhos, só pode ser enxergado e trabalhado com uma visão múltipla.
Foi isso que ensinou aos estudantes no Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP), onde montou o laboratório batizado como Bioecologia de Manguezais (Bioma), que geriu até a aposentadoria em 1998.
Foto de Léo Ramos
 
De lá para cá mantém atividades de docência e orientação, tanto no IO como no Programa de Pós-graduação em Ciência Ambiental, também da USP, e no âmbito da entidade não governamental que criou para continuar sua batalha. Nestes tempos em que o uso desordenado da terra e as mudanças climáticas ameaçam o território dos manguezais, não dá para descansar.
Por que você escolheu os manguezais, que muita gente descreve como um lamaçal malcheiroso?
Começou com uma visão de recursos pesqueiros. É um berçário, uma área abrigada, protegida, cheia de larvas e animais jovens. No meio daquelas raízes meio estranhas há jovens de peixes de valor comercial e as primeiras fases de vida de camarões. Esse crustáceo se reproduz em mar aberto e entra no estuário para comer e crescer. E tem aquelas árvores muito esquisitas, vivíparas, das quais caem plantas já brotando, prontas para se enterrarem na lama. Fui cativada depois de adulta. No mundo da ocea-nografia não se percebiam essas coisas, então me vali da botânica: como funcionam essas árvores? Como se instalam nesse lugar? Aí se amplia o horizonte e a complexidade aumenta. Fui de trás para a frente: do produto do manguezal para o grande cenário.
No início você estudava fauna litorânea, não necessariamente de manguezal. Como foi parar lá dentro?
Em 1976 participei de um simpósio sobre oceanografia biológica em El Salvador, quando a comunidade científica estava alarmada com a perda dos manguezais para a criação de camarão, a carcinocultura. Eu tinha meu universo “mar, mar, mar” e pensei: “Temos muitos manguezais no Brasil, como estarão?”. Ao voltar, me propus a ver quanto deles estaria comprometido com essas práticas. Na oceanografia não tratavam dos manguezais e na botânica terrestre também não, porque se atola para pegar amostras. Pensei: “Temos manguezal do extremo norte do Brasil até Santa Catarina. Quantos anos eu tenho de vida pela frente? Não vai dar para estudar tudo isso sozinha”.
Quantos anos você tinha?
Tinha 33 anos. Eu tinha trabalhado com vermes marinhos da família dos equiurídeos, na região da Ilha Grande [RJ]. Depois havia monitorado a população de Anomalocardia, o vôngole, numa praia de Ubatuba, litoral paulista. Estava lidando com dinâmicas costeiras e de repente surge uma dinâmica ainda mais rápida. Nos dois anos em que medi comprimento, largura e altura das conchas do vôngole os manguezais estavam acabando e ninguém os estudava como ecossistema.
Você se manteve em contato com os pesquisadores que conheceu na América Central?
Eles já estavam envolvidos com o estudo do manguezal, com uma metodologia muito bem estabelecida: Gilberto Cintrón, Samuel Snedaker, Ariel Lugo, entre outros. Eu teria que aprender muita coisa sozinha e vi que era melhor pegar fiadores fortes. Eles vieram nos dar cursos, ajudar a estabelecer locais de trabalho. Começamos a ver o que precisava ser adaptado em termos de Brasil, porque os manguezais daqui não eram iguais aos do Caribe. Nossas amplitudes de maré são muito maiores, por exemplo.
Havia novidade para eles também?
Sim, houve uma verdadeira simbiose. Quando comecei tinha um belo trabalho da Feema [Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente], do Rio de Janeiro. A Norma Crud Maciel estudava os manguezais do recôncavo da baía de Guanabara, um trabalho belíssimo de 1979. Ela logo se associou a nós, porque não tinha tanto espaço para a pesquisa acadêmica em um órgão da administração pública. Foi um início que rendeu muito, inclusive porque temos um laboratório em Cananeia, no litoral sul de São Paulo, com estação meteorológica-padrão e uma série de dados privilegiada. O manguezal é essa mistura de compartimentos: você pode trabalhar nele como arquiteta, médica, engenheira, botânica, geóloga, oceanógrafa.

 Sua graduação foi em história natural. Essa formação ajudou a integrar esses compartimentos?
Muito. Tanto a graduação em História Natural quanto a pós-graduação em Oceanografia sem limites, não só biológica. Para ler o manguezal é preciso estar aberto. Não é só botânica, nem só dinâmica sedimentar ou zoologia. É um pouco mais.
Aos 3 anos… Arquivo pessoal
Você também trabalhou com análise de impacto ambiental. Se falava disso na época?
Não. Era visível que alguma coisa estava interferindo no sistema, como quando terminei meu doutorado no Saco da Ribeira, no litoral norte paulista. A rodovia Rio-Santos estava em construção e ao mesmo tempo iniciavam o primeiro píer, no Saco da Ribeira. Nessa época tive minha primeira mestranda, a Sônia Lopes, hoje professora do Instituto de Biociências, que foi trabalhar com as alterações na fauna de bivalves nessa praia. A área já estava sendo alterada pela instalação de mourões com produtos químicos para proteger a madeira contra apodrecimento, pela alteração da granulometria da praia, e começaram a aparecer espécies oportunistas. Vimos a dinâmica do ambiente respondendo a essas mudanças. Quando comecei a trabalhar com manguezal, a lei brasileira havia consolidado uma política nacional de meio ambiente, a Lei 6.938/81. Tudo acontecia quase ao mesmo tempo.
Além de todos os aspectos presentes no manguezal, tem mais esse: é preciso conhecer legislação.
Exatamente. É uma corrida contra o tempo. Correndo e me valendo de pesquisadores e pós-graduandos do Instituto Oceanográfico. Eu punha os artigos novos em uma mesa no laboratório. Cada um pegava um livro ou artigo para ler e apresentar para os outros, era preciso multiplicar os esforços para tentar acertar o passo. Tudo acontecia muito rápido nesse campo novo, da dinâmica do uso da zona costeira. Em apenas cinco anos se abre uma estrada, se constrói um píer, se processa uma dragagem, ocorrem derramamentos de óleo.
Quando você se tornou uma perita em análises de impacto ambiental?
Fui a perita em dano ambiental da primeira ação civil pública movida no Brasil. Foi o rompimento do oleoduto da Petrobras próximo ao rio Iriri, canal de Bertioga, no litoral de São Paulo. A lei é de 1981 e a regulamentação da lei é de 1983. Em 14 de outubro de 1983 houve esse rompimento e fui nomeada perita judicial por um juiz da vara de Santos.
Como era o trabalho?
Em primeiro lugar, tinha que descobrir o que medir para monitorar um impacto de óleo sem nunca ter trabalhado com isso. Minha experiência era com manguezais lindos, limpos, de Cananeia ou de outras áreas do Brasil. De repente estava num manguezal cheio de óleo. Chegou a 1 metro de altura no tronco das árvores, o sedimento empapado de óleo. Nós seguimos até hoje o monitoramento da área mais impactada, um bosque inteiramente morto. São mais de 30 anos e ainda há óleo enterrado. Quando colhemos amostra de sedimento a uns 80 centímetros, tiramos o testemunho e ainda saem bolinhas de óleo. O manguezal ali nunca voltou ao normal, as árvores que nasceram eram de outra espécie, cresceram pouco e estão morrendo.
Foi esse histórico como perita em impacto ambiental que a levou a trabalhar na Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo nos anos 1990?
Eu mantinha contato com o Ministério Público de São Paulo desde 1983, quando o Édis Milaré, um dos promotores que havia participado da petição da ação cível no caso do rompimento do oleoduto, tornou-se secretário do Meio Ambiente. Ele cumpriu uma representatividade de gênero nas coordenações, escolhendo duas mulheres e dois homens. Eu tinha sob os meus cuidados três institutos de pesquisa [Botânico, Florestal e Geológico], a área de informática e a biblioteca. Era um desafio, não se coordena um grupo de instituições centenárias de qualquer maneira. É preciso entender o ritmo das pesquisas e dos pesquisadores e melhorar, se puder. A biblioteca da secretaria era no 11º andar. Consegui passar para o térreo e o número de visitantes aumentou rapidamente. Biblioteca tem que ser uma coisa chamativa, e no térreo tinha uma sala envidraçada com um jardim lindo fora. No período em que fiquei na secretaria, meu currículo acadêmico não aumentou uma linha, embora saísse de casa às 6h30 da manhã e voltasse às 10 ou 11 da noite.
Os problemas eram muito diferentes do que você conhecia?
Eram, eu conhecia bem o litoral. Não tinha conhecimento acerca das Unidades de Produção e de Conservação do interior do estado. Os limites entre os produtores, o agrossilvipastoril, são muito complicados. Uma pessoa põe uma cerca e diz que a área está protegida, mas não está porque o vizinho não foi indenizado. Uma onça-parda come a galinha de alguém, que mata a onça-parda. Comecei a viajar e fui alertada de que estava muito ausente, então esclareci que nossos problemas estavam fora da capital. Quando passou o primeiro ano, as coisas começaram a se repetir, já não era novidade. Aí era a persistência, quanto tempo eu conseguiria seguir. Cheguei ao final do mandato.
 … e em 2013, no manguezal do rio Iriri três décadas após o derramamento de óleo.  Arquivo pessoal
Seu laboratório trabalhou com valoração econômica do manguezal. Era uma abordagem nova?
Era um dos quesitos das ações civis. Uma das perguntas versava sobre o valor do dano ambiental. Fui orientada a dizer que os danos eram de inestimável valor e que seriam alvo de um futuro arbitramento. Depois de escrever isso muitas vezes, comecei a achar que precisava me preparar para quando chegasse esse futuro. Nessa época duas Monicas estavam no laboratório Bioma, Tognella e Grasso, que tinham um instinto mais economicista. Primeiro tinham bolsa de aperfeiçoamento e  foram à Faculdade de Economia e Administração [FEA-USP] cursar a disciplina básica de graduação para microeconomia. Na época, cada pesquisador que fazia valoração econômica usava um método diferente. No mestrado, cada Monica adotou um conjunto de métodos. Uma foi trabalhar em Cananeia e outra em Bertioga: um mangue intocado e outro muito comprometido. Nos primeiros resultados, o manguezal de Bertioga, bastante alterado, valia muito mais que o de Cananeia. Descobrimos que isso acontecia porque nessa situação se tem um substituto para calcular um valor monetário. Quando o manguezal é alterado, começa-se a pagar pelos serviços ecossistêmicos que até então eram gratuitos. Descobri que era essa a charada: os números só ficam aparentes quando os serviços deixam de existir.
E como se faz para pôr uma etiqueta de preço no manguezal?
Sou contra o preço. Uma coisa é precificação, outra é valoração. O preço é uma parte muito pequena do valor. É muito mais correto transformar a pena em ações que o poluidor ou degradador precisa cumprir. Quanto mais rápido for o processo de condená-lo a cumprir, menos ele pagará. É um processo educativo, o poluidor aprende que, se empurrar com a barriga a tarefa de recompor, só vai lhe custar mais caro. Em 2011 o Ministério Público do estado de São Paulo criou um grupo de trabalho para valorar danos ambientais. Eu era a coordenadora acadêmica dessa equipe mista, Ministério Público e academia, que por mais de dois anos trabalhou toda uma diversidade de impactos ambientais e produziu guias de como responder. Depois buscamos equações de como representá-los. O manguezal, por exemplo, leva um número de anos para funcionar como ecossistema. Não basta plantar. Antes de 20 ou 30 anos as árvores ainda não constituem um ecossistema. A mesma coisa ocorre com a Mata Atlântica ou com o Cerrado.
No caso do manguezal é fácil imaginar que os recursos pesqueiros têm um preço.
Mais do que isso, têm um valor. Das florestas tropicais, o manguezal é a mais eficiente na fixação de carbono. Isso tem grande importância. Junte a isso pousio para aves migratórias, área de berçário para espécies comerciais de peixes, crustáceos e moluscos, a função cultural de sincretismo religioso, de atividades artesanais do povo caiçara. Aquele cenário verde meio estranho é, para eles, uma garantia de vida. Eu não posso dar preço para esses serviços. Tive muita dificuldade com essa questão dentro do Ministério Público, até que um dia tomei coragem com um dos procuradores e pedi licença para um exercício rápido. Eu disse: “Estamos falando de preço e valor. Veja o senhor, um procurador do estado de São Paulo. Como ser humano, seu corpo é 70% água. Quanto custa água? O senhor tem carbonato de cálcio, tem proteínas (podemos ver quanto custa o ovo), o senhor tem alguns nutrientes, tudo isso tem um preço de mercado. Posso ir em juízo e depositar esse preço que a gente auferiu e então posso matá-lo. Agora, qual o valor? O senhor estudou em quantas escolas? Teve atendimento médico desde pequeno. Foi para a faculdade de direito, fez toda a evolução na carreira – advogado, promotor, procurador… Isso é o seu valor, que não está no seu preço”. Acho que consegui mostrar que o preço não representa nada.
Em 1966 com a bióloga Junia Quitete, em curso no Navio Oceanográfico Alte. Saldanha, da Marinha. Arquivo pessoal

E ao longo dessa trajetória você angariou brigas importantes, como o cultivo de camarão em área de manguezal, que foi o que a levou para essa área. Quais são as maiores ameaças aos manguezais?
Hoje eu acho que o maior dano é social. Já perdemos manguezais e nos últimos anos estamos perdendo gente, é isso que me preocupa. Os pescadores não podem mais chegar no estuário para pescar porque está com cerca elétrica e podem ser mortos por jagunços. É um problema social e de saúde. Os pescadores que vão trabalhar na despesca [recolhimento dos adultos nos tanques] da carcinocultura ganham como boia-fria da cana, sem garantias trabalhistas. Têm que lidar com o metabissulfito, usado para o camarão não ficar preto, e trabalham sem máscara nem luva. Se vai para o pulmão, essa substância mata. Um biólogo pode servir a várias fazendas, o veterinário também, por isso gera muito pouco emprego e menos renda ainda. O Renato de Almeida, à época pós-graduando do Bioma, trabalhou com o Índice de Desenvolvimento Humano [IDH] entre 1990 e 2000 nos municípios principalmente do Ceará com muitas fazendas de carcinocultura. O IDH não melhorou nada nesse período. O dinheiro que sai da produção de camarão naquele município não é aplicado ali, é investido em outros mercados.
E em termos de danos ao manguezal, imagino que tenha duas partes: a retirada das árvores para pôr os tanques de criação e os contaminantes químicos.
Exatamente. E em cinco anos, no máximo sete anos, aquela área já não serve e eles avançam para outro manguezal. Em fazendas abandonadas, quando se rompem os muros da carcinocultura, nasce mangue outra vez.
E dá para combater isso?
Doenças como as viroses do camarão cultivado dificultam a venda para o mercado externo. Desde o começo se trabalha com um camarão nativo do Equador, o Litopenaus vannamei. É uma espécie exótica, o que é proibido, mas trazem em avião especial carregado com larvas, ou são produzidas em laboratórios aqui no Brasil. Fungos e vírus deixam o sistema menos complexo, mais vulnerável e se começa a perder biodiversidade.
E o mercado começa a rejeitar?
Com a mancha branca, causada por um fungo, é preciso adensar menos as larvas nos tanques. Também tem que despescar antes, porque chega a um ponto em que os camarões comem muito e não aumentam proporcionalmente de peso, por causa da doença. Vendem-se então os camarões menores, que o mercado internacional não aceita e essa produção em menor escala fica para o mercado interno. Estive em uma carcinocultura no Piauí e vi que no canal de entrada da água tem uma diversidade riquíssima de formas de vida estuarina. Macroalgas, ofiuroides, até cavalo-marinho, uma coisa linda. O canal de saída para o estuário não tem nada.
Como a nova lei florestal afeta o manguezal?
Eu me inscrevi para ser expositora na audiência pública do dia 18 de abril no Supremo Tribunal Federal, mas não fui habilitada. Foram 22 expositores, com um peso muito grande para os defensores da lei. Da área de manguezal da Amazônia Legal, Amapá e Pará, 10% estão disponíveis para a carcinocultura. Do Maranhão para o sul, a proporção sobe para 35%. A nova lei florestal concedeu uma porção do manguezal, o apicum, antes considerado de preservação permanente. O que eu teria contestado nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade é que eles dizem que o manguezal urbano, quando não tem mais função ecológica, pode ser colonizado. Mas o que é função ecológica? Se o manguezal está lá, ele tem função ecológica. Era isso que eu queria explicar.
Em curso de mergulho durante a graduação em História Natural na Universidade do Brasil, RJ. Arquivo pessoal.
No resto do mundo o quadro dos manguezais é diferente?
É um ecossistema típico de regiões tropicais e subtropicais. No mundo, equivale a litorais com alta densidade populacional. São áreas costeiras, também altamente valorizadas por serem locais de portos e resorts. No Sudeste Asiático instalaram muitas fazendas de cultivo de camarão em cativeiro. Na China, no Vietnã, na Malásia e na Indonésia o prejuízo social é impressionante. Quando começam a grassar as viroses nesses crustáceos, os danos são muito grandes. Mas nesses países a renda é muito baixa, os prejuízos não chegam a fazer diferença na economia mundial. O litoral da América Central está arrasado pela carcinocultura, mas tem também tráfico de drogas e guerrilha que comprometem muito mais a sociedade e o meio ambiente do que aqui no Brasil. Vários colegas pescadores já perderam a vida como resultado desses conflitos.
Como foi a formação do curso de pós-graduação em ciências ambientais, aqui na USP?
Em 1990 o professor José Goldemberg, enquanto reitor, sentiu necessidade desse tipo de pós-graduação interdisciplinar e solicitou ao então pró-reitor de Pós-graduação – o professor Ubríaco Lopes, da Faculdade de Medicina – que formasse esse grupo. Ele chamou docentes de várias áreas, que formularam um projeto e apresentaram ao Conselho Universitário. No final de 1991 começou a primeira turma. É um programa muito interessante, que até uns anos atrás era adido diretamente à Pró-reitoria de Pós-graduação. Mas a reitora Suely Vilela exigiu que todos os cursos de pós-graduação fossem albergados em unidades. Com a presença do próprio professor Goldemberg no Instituto de Eletrotécnica e Energia [IEE], fomos bem recebidos. O IEE manteve a sigla, mas passou a se chamar Instituto de Energia e Ambiente.
Fora da universidade, você sempre teve envolvimento com extensão, com educação ambiental. Quais foram as melhores experiências?
Participar do Encontro Nacional de Educação Ambiental em Áreas de Manguezal [Eneaam] desde a sua criação em 1993. As reu-niões são sempre em áreas de manguezal. Já aconteceram encontros em vários estados do país, sempre em municípios onde tem gente que vive associada ao manguezal. É muito interessante o tipo de trabalho que dá para fazer com o pescador, a marisqueira, o escritor de cordel, o indígena… O primeiro passo é resgatar a experiência de todos. Tenho oferecido minicursos nos quais não é preciso formação acadêmica. Dependendo de onde é feito, o público é completamente diferente. Em Bragança, no Pará, tem um público diferente de quando estamos no Espírito Santo. No Sudeste o manguezal é visto como fedido e podre, lá no extremo norte é a riqueza deles. Tem todo um sincretismo religioso entre os moradores do manguezal, “os operários da maré”, é lindo.
Nos últimos anos você fundou uma ONG, o Instituto BiomaBrasil [IBB]. O que vocês fazem?
O IBB foi um desejo de meus ex-alunos. Como eu tinha me aposentado e o IO decidiu que não continuaria as pesquisas com manguezais, precisaríamos de uma maneira de manter essa identidade. Então combinamos que eu participaria com meu nome, meu currículo. Mas eles que fazem o trabalho: o Clemente Coelho Junior, professor da Universidade Federal de Pernambuco, o Renato de Almeida, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, o Ricardo Menghini, que está no Ministério Público do Estado de São Paulo, a Marília Lignon, da Universidade Estadual Paulista em Registro, e minha filha Claudia, que faz a parte multimídia e de marketing. Não temos nenhum funcionário, manter uma ONG correta sai muito caro. O IBB está absolutamente legal e tem tido projetos da Fundação Grupo Boticário e do SOS Mata Atlântica. Os recursos financeiros vão integralmente para as atividades de campo, com educação e pesquisa, nós não somos remunerados. Atuamos na área de gestão e conservação de zonas costeiras tropicais com ênfase no manguezal, usando o nome que já era do laboratório. Trabalhamos com pessoas e com projetos em áreas costeiras como coleta de lixo e melhoria de qualidade de vida. O carro-chefe tem sido o guia Maravilhosos manguezais do Brasil. É um guia do Mangrove Action Project [MAP], um projeto internacional, que foi traduzido e aplicado em outros países. Aqui resolvemos fazer a adequação dessa filosofia para a realidade brasileira. Porque nossa realidade é diferente da do Caribe, da América Central. Então foi reescrito: são 40 atividades práticas, sempre com um texto introdutório e os conceitos. Damos cursos de capacitação usando esse material, com dois dias e meio de atividades teórico-práticas com professores da rede pública estadual e municipal de escolas em áreas com manguezal. Também montamos uma rede em que os professores que participam depois podem seguir trocando expe-riências. Tem dado muito certo.
Ao mesmo tempo você participa de um projeto grande que é o da baía do Araçá, financiado pela FAPESP. Como está?
Vai terminar no ano que vem, tivemos um ano de prorrogação. Estamos escrevendo os artigos e eu estou plantando mangue nas pedras que enrocam o aterramento do porto. Temos uma batalha porque o porto queria aterrar a área da baía do Araçá. Como houve protestos veementes, o porto propôs fazer uma laje a 1 metro de altura. Mas acaba de ser divulgada a sentença judicial confirmando as duas liminares. Isto é: manteve as liminares que cassaram a licença dada pelo Ibama. O órgão concedeu licença para a laje porque a baía do Araçá estaria morta, mas foi comprovada a vitalidade do ambiente. Nosso projeto é de ciência, não de consultoria sobre o porto, mas como pesquisadores individuais nos unimos ao Centro de Biologia Marinha da USP [Cebimar] para preparar os documentos que embasam a defesa do Ministério Público Federal e Estadual. Há poucos meses o Ricardo Lewandowski, presidente do Supremo Tribunal Federal, decidiu pela não construção da laje.
Enquanto isso você planta manguezal.
É. Medimos todas as árvores. São 400 e tantas árvores vivas. Uma que eu plantei está indo em frente. A ideia é que seja emblemático, não pretendo instalar um manguezal, é paisagismo. Mas ajuda a recuperar a autoestima dos pescadores. Uma amiga me perguntou por que eu vou plantar mangue ali, com o porto atrás. Eu disse: “Lembra daquele garoto chinês da praça da Paz Celestial, de pé em frente à coluna de tanques? Eu sou essa”.

Fonte: Entrevista na Revista FAPESP, edição 244, junho de 2016, por  Maria Guimarães

























… e em 2013, no manguezal do rio Iriri três décadas após o derramamento de óleo

RG de pesquisador

Instituições brasileiras começam a adotar o identificador Orcid, assinatura digital global para autores científicos e acadêmicos
 Nos próximos meses, os 3,5 mil docentes da Universidade Estadual Paulista (Unesp) serão convocados a se cadastrar no Orcid (sigla para Open Researcher and Contributor ID) e passarão a ter um número de identificação que servirá como uma assinatura digital no ambiente científico global, sem risco de confusão com homônimos. Quando forem submeter um artigo a uma revista científica, por exemplo, precisarão apenas informar sua sequência particular de 16 números, como a de um cartão de crédito, para que suas informações, tais como nome, assinatura padronizada e afiliação, sejam preenchidas no formulário.
Essa é um das utilidades mais palpáveis do registro, mas suas aplicações são mais amplas. Cada usuário pode, se quiser, construir um perfil reunindo sua produção acadêmica, numa espécie de currículo acadêmico certificado. Seus novos papers serão automaticamente recuperados, pois o número de identificação único se conecta com bancos de dados de revistas científicas e repositórios de instituições que se afiliaram ao sistema. A produção científica pregressa também pode ser resgatada. O usuário pode intercambiar dados entre perfis acadêmicos e profissionais, tais como o ResearcherID, da empresa Thomson Reuters, o Scopus e o Mendeley, da editora Elsevier, ou o LinkedIn. Dessa forma, um currículo com informações certificadas pode se tornar acessível a editores e revisores de revistas científicas, agências de fomento e programas de avaliação.
O registro de autores é gratuito, mas instituições podem se afiliar à plataforma, pagando uma taxa anual para integração de sistemas e suporte. A intenção da Unesp é aperfeiçoar a identificação dos seus afiliados no repositório institucional, que reúne dados sobre 92 mil itens da produção científica de docentes e pesquisadores da instituição. A construção do repositório partiu do zero há pouco mais de dois anos e buscava atender a uma demanda da FAPESP para reu-nir, preservar e dar acesso aberto à produção científica dos pesquisadores das três universidades estaduais paulistas.
Esse esforço, diz Flavia Maria Bastos, coordenadora das bibliotecas da Unesp e do programa de repositório institucional da instituição, exigiu um trabalho minucioso de tratamento das informações disponíveis em bases de revistas científicas e no currículo Lattes dos docentes para identificar a produção de cada um deles, a despeito de não usarem uma assinatura padronizada em todos os artigos – é comum, principalmente quando o autor tem vários sobrenomes, que assinaturas apareçam com abreviações diferentes. “Agora, quando um docente da Unesp publicar um artigo científico, nosso sistema conseguirá recuperar imediatamente os dados sobre esse paper e vinculá-lo à sua produção científica”, diz Flavia. “Com isso, teremos dados de qualidade sobre a produção de cada pesquisador, de cada unidade da Unesp e da universidade como um todo. Ainda hoje, apesar dos esforços para criar o repositório, temos parte da nossa produção oculta por ambiguidade de nomes de pesquisadores e da própria Unesp, cuja sigla às vezes é confundida com a da USP e até da Universidade Paulista, a Unip.” Trabalho de coleta
A Unesp é a primeira instituição brasileira a se afiliar ao Orcid, mas em breve deverá ter companhia. A Universidade de São Paulo (USP) também planeja afiliar-se em 2016. Com um repositório criado em 1985 que congrega mais de 700 mil registros da produção intelectual de seus pesquisadores, inclusive cópias físicas, a USP pretende, com o cadastro universal, tornar automática a recuperação da produção científica, facilitando o trabalho de coleta. Hoje, a equipe do Sistema Integrado de Bibliotecas (SIBi) da USP cadastra o nome de cada um dos pesquisadores em bases de dados de publicações científicas para receber mensagens de alerta quando seus artigos científicos são publicados. O passo seguinte é baixar uma cópia do documento e preservá-lo no repositório. “Queremos usar o Orcid para facilitar o rastreamento e trazer os metadados das várias fontes que se interligam por meio de número de identificação único, como o ResearcherID. Essa ferramenta possibilitará que a universidade monitore sua produtividade intelectual por meio dos indicadores”, diz Maria Fazanelli Crestana, coordenadora do Sistema Integrado de Bibliotecas da USP. O Orcid é uma organização sem fins lucrativos que reúne registros de 1,78 milhão de pesquisadores, principalmente nos Estados Unidos e na Europa. Cerca de 28 mil brasileiros já se cadastraram. Em maio passado, a organização criou um escritório em São Paulo para ampliar sua presença na América Latina que, além do acordo recente com a Unesp, já obteve afiliações da biblioteca virtual Red de Revistas Científicas de América Latina y el Caribe, España y Portugal (Redalyc), sediada no México, e do Consejo Nacional de Ciencia, Tecnologia e Innovación Tecnológica, órgão de planejamento científico do governo do Peru que quer integrar o Orcid ao currículo dos pesquisadores do país. “Estamos conversando com autoridades brasileiras sobre a possibilidade de integrar ao Orcid os dados da Plataforma Lattes, que reúne mais de 4 milhões de currículos de pesquisadores e estudantes brasileiros”, diz Lilian Pessoa, historiadora formada na USP que se tornou representante do Orcid
para a América Latina.
A plataforma foi criada nos Estados Unidos em 2011 com a intenção de contornar um problema que atrapalha universidades, editoras de publicações científicas e bibliotecas: a dificuldade de distinguir autores com sobrenomes muito comuns e identificar sua contribuição acadêmica. O peso crescente da China na ciência internacional tornou ainda mais desafiadora a tarefa de identificar a produção de homônimos. Ocorre que 85% da população chinesa compartilha um conjunto de pouco mais de uma centena de sobrenomes. “O Orcid resolve o problema da ambiguidade, pois não há dois pesquisadores com o mesmo número de identificação”, diz Lilian Pessoa. “Se uma pesquisadora muda de sobrenome quando se casa, seu Orcid vai permanecer o mesmo e ela não terá dificuldades em identificar sua produção”, explica Antonio Álvaro Ranha Neves, professor da Universidade Federal do ABC, entusiasta da nova plataforma que se registrou em 2013 e se tornou embaixador da iniciativa no Brasil. A função, de caráter voluntário, consiste em disseminar seu uso no ambiente acadêmico. “É possível usar o Orcid inclusive para identificação de autores em seus sites pessoais e blogs.”
A ideia de um cadastro individual para os pesquisadores não é nova. A empresa Thomson Reuters criou em 2008 o ResearcherID, código que identifica pesquisadores e congrega sua produção científica registrada na base de revistas Web of Science (WoS). A editora Elsevier, que mantém a base de revistas Scopus, lançou o similar Scopus Author Identifier, assim como o Google desenvolveu o Google Scholar ID, que captura a produção científica de várias fontes na internet e constrói perfis de pesquisadores, oferecendo inclusive indicadores como citações e índice-h. “Essas iniciativas tinham uma limitação. No caso do ResearcherID e do Scopus, pertencem a empresas que buscam vender serviços e indicadores e seus resultados são abertos só para assinantes”, diz Neves. “Além disso, baseiam-se num conjunto específico de revistas, as indexadas em cada base de dados, e não em toda a produção.”
Egressos
A vantagem do Orcid sobre os outros sistemas é ter um registro capaz de recuperar dados de qualquer fonte que aceite o identificador como referência, incluindo os bancos de dados de revistas indexadas, repositórios institucionais, bancos de teses e até perfis de redes sociais acadêmicas. A plataforma foi criada com o apoio de editoras científicas, como as do grupo Nature, interessadas em melhorar o fluxo e fidedignidade dos metadados (dados sobre os dados) de artigos científicos e facilitar o trabalho dos editores e revisores na avaliação de manuscritos. Várias universidades se juntaram à iniciativa, como Harvard e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos. “A Boston University adotou o Orcid não só para seus professores e pesquisadores, mas até mesmo para alunos de graduação. Com isso, busca avaliar a produção dos egressos e acompanhá-los em sua trajetória profissional”, diz Antonio Neves.
Em países como Portugal e Itália, o Orcid foi adotado por órgãos de governos para identificar a produção dos pesquisadores. O recurso ganha adeptos no Reino Unido, onde o Higher Education Funding Council for England (Hefce), um dos órgãos responsáveis pela cara e minuciosa avaliação das universidades que acontece a cada cinco anos, passou a encorajar pesquisadores a criarem seus registros e tornarem mais visível sua produção. Instituições de fomento, como os Institutos Nacionais de Saúde, dos Estados Unidos, e o Welcome Trust, do Reino Unido, introduziram o registro em seus sistemas de avaliação e passaram a exigir o número de identificação dos pesquisadores que apresentam pedidos de financiamento.
Para Abel Packer, coordenador da biblioteca digital brasileira SciELO, que reúne 280 revistas em regime de acesso aberto, a adoção do Orcid é uma tendência irreversível, mas a velocidade com que isso acontece ainda é lenta. “O crescimento tem sido constante, mas não foi o boom que se esperava”, afirma. O formulário de submissão de manuscritos de mais de uma centena de revistas do SciELO tem um campo opcional para a inclusão do Orcid. “Mas apenas 5% dos autores informam seus dados, proporção que se repete em revistas de outros países”, afirma. O ideal, diz Packer, é que revistas científicas e agências de fomento tornassem obrigatória a inclusão do registro. “O Orcid só se tornará consenso, como o sistema de identificação DOI se tornou para identificar artigos científicos, se for obrigatório. A grande adesão à Plataforma Lattes se deu quando ela se tornou mandatória para os estudantes de pós-graduação e docentes”, afirma. “Mas muitas revistas científicas resistem em exigir o registro porque temem espantar autores.” A consolidação do Orcid é lenta, na avaliação de Packer, porque muitos autores ainda não perceberam a utilidade no uso do registro assim como as universidades, editoras e agências. “Um grande contingente de pesquisadores mantém perfis em redes sociais científicas, como o ResearchGate, a Academia.edu e o Mendeley, onde reúnem e tornam públicos seus trabalhos científicos. Para muitos deles, inscrever-se no Orcid é apenas uma tarefa a mais para atingir o mesmo objetivo”, diz.
Para Packer, um passo fundamental para disseminar o Orcid no Brasil é integrá-lo à Plataforma Lattes. “Para os pesquisadores brasileiros, seria bastante útil se a informação que eles já registraram no currículo Lattes fosse recuperada de forma automática pelo Orcid”, afirma o coordenador do SciELO, para quem o Lattes precisa urgentemente se reinventar. “A plataforma brasileira precisa de uma inovação radical para não ficar para trás. Desenvolveu-se como uma base de currículos única e exemplar no mundo, mas nos últimos anos deveria ter se tornado uma rede social por meio da qual os pesquisadores pudessem fazer networking e trabalhar em redes, a exemplo do que aconteceu com Mendeley ou ResearchGate. A perda de espaço do Lattes e as barreiras que se impõem ao acesso e intercâmbio de dados é algo trágico e revela a dificuldade do Brasil em inovar”, afirma.

Fonte: Revista FAPESP  Edição 238 de dezembro de 2015, por Fabrício Marques