E que delícia que é uma tainha assada, não? A prática da pesca da tainha no Brasil é do tempo em que aqui ainda não havia chegado nenhum europeu. Uma tradição indígena que se renova ano após ano. “Além disso têm pequenas redes (referindo-se aos Tupinambás). O fio com que a emalham obtêm-nos de folhas longas e pontudas que chamam tucum. Quando querem pescar com estas redes, juntam-se alguns deles e colocam-se em círculos na água rasa, de modo que a cada um cabe determinado pedaço da rede. Vão então uns poucos no centro da roda e batem nágua. Se algum peixe quer fugir para o fundo, fica preso na rede. Aquele que apanha muito peixe reparte com os outros que pescam pouco.” Eis aí a primeira descrição da pesca da tainha, feita por Hans Staden, em 1557. O alemão viera ao Brasil e trabalhava com artilheiro no forte de Bertioga quando foi preso pelos Tupinambás, cujo chefe Cunhabebe, morava na hoje ilha Anchieta. Até hoje a pesca é feita nesta base.
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| Pesca da tainha em Arraial do cabo, RJ. | 
Conheça a tainha
O site oceana Brasil 
explica o ciclo de vida. “A tainha (Mugil liza) tem um ciclo de vida que
 a torna particularmente frágil à pesca intensa. Depois de viver seu 
primeiro ano no mar, ela entra nos estuários e lagoas costeiras, onde 
cresce até 4 a 6 anos, quando atinge a idade adulta. A partir daí, a 
cada outono, machos e fêmeas formam grandes cardumes para empreender uma
 longa jornada. A migração reprodutiva no mar. Cada tainha vai desovar 
até 5 milhões de ovos. Eles dependerão do acaso para serem fecundados, 
formarem pequenos juvenis, que se dirigirão para os estuários, onde 
crescerão e fecharão o ciclo da vida. A chamada safra da tainha é a 
pesca entre abril e julho, durante a migração reprodutiva da espécie.”
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| tainha, imagem, www.lagubras.com.br. | 
De onde vêm as tainhas pescadas no Brasil
Segundo a Oceana, “O estoque sul desta 
espécie migra anualmente de estuários na Argentina, Uruguai e Rio Grande
 do Sul, no Brasil, podendo chegar até o Espírito Santo, dependendo das 
condições climáticas.” Mas os estoques no País estão sobrexplorados. 
Todos os anos temos uma batalha jurídica. Pode-se ou não, pescar a 
tainha? Em 2019 não foi diferente. O site www.nsctotal.com.br
 explica. “Em 2017, a ONG Oceana apresentou um levantamento do estoque 
de tainhas e a proposta do sistema de cotas, usado em boa parte do mundo
 para controlar as capturas. Este é considerado um meio mais efetivo de 
garantir uma pescaria sustentável. O governo federal adotou o sistema 
pela primeira vez na safra de 2018. Mas houve problemas no controle de 
capturas da pesca industrial porque a pescaria foi muito intensa e 
rápida. Os próprios armadores suspenderam a safra, antes do governo, ao 
perceberem que haviam extrapolado a cota. Pescaram 114% além do que 
poderiam.”
Safra da tainha em 2019
Nova batalha jurídica aconteceu. Nsctotal.com.br. “O desembargador Márcio Antônio Rocha mergulhou fundo no assunto e na polêmica que cerca a pesca industrial da tainha, questionada pelo Ministério Público há quase uma década. A procuradoria defende o fim da pesca industrial, alegando que ela colocaria em risco a espécie. A decisão considera, ainda, que a pesca industrial da tainha “não está relacionada a qualquer elemento cultural” e se destina a abastecer o mercado internacional de ovas. Esse tem sido o posicionamento do MPF no Rio Grande do Sul, que judicializou a pesca da tainha.” Depois de muito diz-que-diz, o governo federal lançou o SisTainha, programa de monitoramento e controle das cotas de captura, e autorizou a pescaria.Pesca da tainha hoje, saiba como é
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| Do alto, o vigia avisa os pescadores na praia da chegada do cardume. | 
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| A canoa puxa a rede. | 
Cerca de 80% da pesca da tainha é realizada em Santa Catarina onde ela é considerada Patrimônio Cultural. Os cardumes saem da Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul,
 especialmente quando venta de sul. Uma curiosidade da tainha é que ela 
nada sempre a favor das correntes, daí a importância do vento sul que 
faz com que os cardumes subam a costa brasileira, rentes à ela, onde 
procuram estuários com águas mais quentes para entrar. Ali desovam e 
voltam ao mar. A safra deste ano teve início em 1º de maio (pescadores 
artesanais). Com uso do emalhe, a partir de 15 de maio. E cerco e 
traineiras, a partir de 1º de junho. Só em Santa catarina há 13 mil 
pescadores de tainha e a estimativa é capturar cerca de 2 mil toneladas 
do peixe.
Pesca da tainha em números no Brasil
A Oceana é quem explica: “O Brasil tem 
uma das maiores pescarias de tainha do mundo. Ela é responsável pela 
mobilização de uma frota industrial de traineiras e frotas de média 
escala como o emalhe anilhado, além de milhares de pescadores artesanais
 em todas as regiões das lagoas e estuários da planície costeira dos 
estados das regiões Sul e Sudeste. Do ano 2000 até 2015, os desembarques
 totais registrados de tainha desde São Paulo até o Rio Grande do Sul 
variaram de 2 a 13 mil toneladas/ano de peixe fresco para consumo 
interno. De 2007 a 2013, essa pescaria produziu entre 170 e 600 
toneladas/ano de ovas (botarga) e moelas de tainha processadas para 
exportação, sendo responsável pela movimentação de algo  entre 3,5 e 10 
milhões de dólares, anualmente.” A Folha de S. Paulo, em matéria de 
junho de 2018, diz que “há relatos de até 25 mil tainhas pescadas em 
apenas uma ação em anos anteriores.”
Safra 2019
A temporada que começou em 1º de maio, este ano está fraca até o momento. Segundo o www.nsctotal.com.br, “pescadores do Litoral catarinense estão apreensivos. Até o momento foram capturadas 9,5 toneladas do peixe, segundo a Federação de Pescadores do Estado de Santa Catarina (Fepesc).
 Isso é pouco perto da expectativa de pesca para este ano, que é de 2 
mil toneladas. No mesmo período do ano.” passado, havia sido capturadas 
520 toneladas de tainha.
 Segundo os pescadores, ainda não esfriou o suficiente, nem ventou sul 
forte, para que as tainhas deixam a Lagoa dos Patos, e suba a costa.
‘Vão então uns poucos no centro da roda e batem nágua’
Da descrição de Hans Staden, no século16, até hoje…O pescador usa o remo como porrete.
E bate com força n’água. “Se algum peixe
 quer fugir para o fundo, fica preso na rede”. E uma última curiosidade 
sobre este tipo de pesca. Em Cananeia, litoral sul de São Paulo, flagrei um pescador de tainha ajudado por um golfinho, uma incrível interação entre o homem e os mamíferos marinhos.
Assista ao vídeo da pesca da tainha e saiba mais.Fonte: Mar Sem Fim


 
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