ONU aprova a resolução 72/249 que permitirá a criação de áreas marinhas protegidas em alto- mar
Foi em 24 de dezembro, e teve apelo de 
presente de Papai Noel, que a ONU aprovou a resolução 72/249. Ela 
permitirá iniciar negociações  sobre a adoção de acordos para assegurar a
 conservação e uso sustentável da biodiversidade marinha em águas 
internacionais. Em outras palavras, a esperada criação de áreas marinhas
 protegidas em alto- mar
 A resolução da ONU de criar Áreas marinhas protegidas em alto- mar põe mais pressão do Brasil. (Foto de John Weller)
O acordo  permitirá avaliações de 
impacto ambiental, e o estabelecimento de um sistema para compartilhar 
os benefícios dos recursos genéticos marinhos.
O significado desta decisão da ONU
Ela reconhece a necessidade de 
considerar os oceanos como um ambiente frágil. Reforça que sua proteção é
 responsabilidade de todos os países vinculados à ONU, o que exige a 
adoção de regras universais. A decisão também permite gestão mais 
sustentável dos recursos marinhos.
O que é o ‘alto-mar’, que representa mais de 60% de todos os oceanos
No direito internacional esta parcela também é conhecida como ‘res communis  usus’,  ou ‘área de uso comum a todos’. É a parte dos oceanos que pode ser livremente utilizada. Trata-se
 de cerca de 60%, dos 364 milhões de Km2 de oceanos globais. O alto- 
mar é um conceito de direito definido como  ‘todas as partes não 
incluídas no mar territorial e na zona econômica exclusiva de um 
estado costeiro, nem nas águas arquipelágicas de um estado insular’.
Conheça a vida marinha do alto- mar
Este espaço abriga o que cientistas chamam de espécies pelágicas (do latim pelagos,
 que significa o “mar aberto”), região onde vivem espécies  que não 
dependem dos fundos marinhos para seu ciclo de vida. São organismos que 
dependem apenas das características das massas de água,   conhecidos 
como espécies pelágicas.
 A zona pelágica (Ilustração: http://ecosistemas.ovacen.com)
Elas vivem em cardumes e são 
migratórias;  podem ser pequenas como sardinhas e anchovas, ou grandes 
como vários tipos de tubarões. Entre as espécies estão os atuns, peixes de bico como o sailfish,
 marlins, dourados, albacoras, além de mamíferos marinhos como as 
baleias e golfinhos.  Os cientistas também descobriram que o espaço está
 repleto de pequenos organismos que ajudam a construir a base da cadeia 
alimentar das espécies.
Dificuldades de controle do alto- mar
Não bastasse a dificuldade provocada 
pela vastidão, existem agências reguladoras que trabalham em áreas 
específicas do que se convencionou chamar de alto- mar, mas elas não se 
falam, não há ligação entre elas. A Organização Marítima Mundial, por 
exemplo, regula o trafego marítimo; a Autoridade Internacional dos 
Fundos Marinhos, controla a mineração; e vários órgãos da pesca procuram
 fazer o mesmo em sua área. A comunidade internacional ainda não 
encontrou um organismo que fale por todos os aspectos envolvidos no 
“alto- mar”. Mas isso esta prestes a mudar.
O alto- mar é também habitat da mais formidável ave marinha: o albatroz
A proteção ao alto- mar
Desde a  10ª. Conferência das Partes da 
Convenção sobre Diversidade Biológica, Japão, existem metas mundiais 
para a proteção da vida marinha. A meta nº11, de Aichi, foi assinada 
nesta convenção. Ela  propõe que todos os países com saída para o mar 
separem até 10% de seu mar territorial, e ou zona costeira, em áreas 
protegidas até 2020. Novos estudos, entretanto, não garantem que a 
biodiversidade, e resiliência marinhas, estejam garantidas só com este 
percentual de proteção. Alguns  cientistas consideram que o mínimo 
necessário seria 30%. Não há como atingir este percentual sem considerar
 o alto-mar, daí a decisão da ONU.
Decisão coroa discussão que começou há tempos
Faz tempo que cientistas, ONGs e alguns 
governos alertam sobre os problemas do alto- mar. Esse é um espaço de 
ninguém, ao mesmo tempo de todos. E onde impera a lei do mais forte. Só 
países com alto grau de desenvolvimento, ou grandes empresas 
multinacionais, exploram os cardumes que por lá circulam. Não há 
qualquer fiscalização, ou proteção, à pesca em alto- mar.
Por que são importantes as áreas marinhas protegidas em alto- mar
Porque o que existe ali são recursos vivos que pertencem à todas as nações mas, por questões econômicas, só as mais ricas os exploram. Isso, além de injusto, prejudica as nações pobres que são privadas destes recursos super explorados por arrastões em alto- mar. A questão já foi discutida no Fórum Econômico Mundial, em Davos, em 2015. No ano seguinte, na conferência Our Oceans, organizada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, o secretário John Kerry defendeu calorosamente proteção deste espaço. Agora a ONU coroa estes esforços com a resolução 72/249.Resolução põe mais pressão no Brasil
Não foi esse o objetivo, mas a resolução
 da ONU põe mais pressão no Brasil, um dos poucos países que até agora 
não se mexeu para criar novas áreas marinhas protegidas, desrespeitando 
acordos internacionais. A despeito dos esforços da comunidade mundial, o Brasil continua com míseros 1,5% de áreas marinhas protegidas. A resolução da ONU  nos traz um ganho paralelo.
Fontes: Mar sem fim 
 https://pt.wikipedia.org/wiki/Zona_pel%C3%A1gica; http://ecosistemas.ovacen.com/los-diferentes-oceanos-formas-vida/; http://www.antaq.gov.br/portal/pdf/palestras/apresentacaoimo.pdf, https://www.isa.org.jm/; http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/ambiente/cop10-protocolo-nagoya-plano-estrategico-607759.shtml; http://news.mongabay.com/2016/04/scientists-say-need-far-ambitious-protecting-oceans/; http://www.ipsnews.net/2016/04/a-promising-start-for-a-high-seas-treaty/.

 
 
