Neil Gaiman, autor renomado que recentemente publicou O Oceano no Fim do
 Caminho, fez uma palestra para a The Reading Agency falando sobre o 
futuro da leitura e das bibliotecas. Gaiman fala com paixão a respeito e
 levanta questionamentos sobre como os autores devem sempre escrever 
verdades mesmo que contidas na “mentira” fictícia.
Confira um resumo da palestra:
“Eu acho que nós temos responsabilidades para com o futuro. 
Responsabilidades e obrigações com as crianças, com os adultos nos quais
 aquelas crianças vão se transformar, com o mundo onde eles vão se 
encontrar habitando. Todos nós – como leitores, como escritores, como 
cidadãos – têm obrigações. Pensei em tentar explicitar algumas dessas 
obrigações aqui.
Acredito que temos a obrigação de ler por prazer, em privado e em 
lugares públicos. Se lemos por prazer, se os outros nos veem ler, então 
nós aprendemos, nós exercitamos a nossa imaginação. Nós mostramos aos 
outros que a leitura é uma coisa boa.
Temos a obrigação de apoiar bibliotecas. De usar bibliotecas, de 
incentivar outras pessoas a usarem as bibliotecas, de protestar contra o
 fechamento de bibliotecas. Se você não valoriza as bibliotecas, então 
você desvaloriza informação ou cultura ou sabedoria. Você está 
silenciando as vozes do passado e você está prejudicando o futuro.
Temos a obrigação de ler em voz alta para os nossos filhos. De ler 
para eles coisas que eles gostam. De ler para eles histórias das quais 
já estamos cansados. De fazer as vozes para tornar interessante, e não 
de parar de ler para eles apenas porque eles aprendem a ler para si 
mesmos. Use o tempo de leitura em voz alta como um momento de ligação, 
como o tempo em que não há telefones sendo verificados, em que as 
distrações do mundo são postas de lado.
Temos a obrigação de usar a língua. Para nos empurrar: para descobrir
 o que as palavras significam e como implantá-las, para nos comunicarmos
 de forma clara, e dizer o que queremos dizer. Não devemos tentar 
congelar a linguagem, ou fingir que é uma coisa morta, que deve ser 
respeitada, mas devemos usá-lo como uma coisa viva, que flui, que 
empresta palavras, que permite aos significados e às pronúncias mudar 
com o tempo.
Nós, escritores – e, especialmente escritores para crianças, mas 
todos os escritores – temos uma obrigação com nossos leitores: é a 
obrigação de escrever coisas verdadeiras , especialmente importante 
quando estamos criando contos de pessoas que não existem em lugares que 
nunca existiram – a entender que verdade não está no que acontece, mas o
 que ela nos diz sobre quem somos. A ficção é a mentira que diz a 
verdade, afinal de contas. 
Temos a obrigação de não entediar os nossos leitores, mas fazê-los 
precisarem virar as páginas. Uma das melhores curas para um leitor 
relutante, afinal, é um conto cuja leitura não pode ser interrompida. E 
enquanto dizemos aos nossos leitores coisas verdadeiras e damos a eles 
armas e armadura e passagem para qualquer sabedoria adquirida a partir 
de nossa curta estadia neste mundo verde, temos a obrigação de não 
pregar, não ensinar, não forçar mensagens morais pré-digeridas goela 
abaixo dos nossos leitores, como aves adultas que alimentam seus bebês 
com larvas pré-mastigadas, e nós temos a obrigação de nunca, jamais, em 
hipótese alguma, escrever alguma coisa para as crianças que nós mesmos 
não gostaríamos de ler.”.
Fonte: Literatortura  disponível no link   http://literatortura.com/2013/10/neil-gaiman-explica-futuro-depende-livrarias-leituras-sonhos/      

 
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