A Floresta Amazônica tem diminuído sua capacidade de absorver carbono da
 atmosfera, de acordo com um novo estudo publicado nesta quarta-feira, 
18, na revista Nature. Segundo a pesquisa, a captação de dióxido de 
carbono pode ter caído à metade, em relação aos 2 bilhões de toneladas 
do composto que a floresta absorvia anualmente na década de 1990. Para 
os autores, o aumento da mortalidade de árvores é considerada a 
principal causa da queda observada na capacidade da floresta para 
absorção de carbono. 
Realizado ao longo de 30 anos, o trabalho é
 a mais extensa pesquisa terrestre já feita na Amazônia e envolveu uma 
equipe internacional de quase 100 cientistas, incluindo brasileiros. A 
coordenação do trabalho foi feita pela Universidade de Leeds, no Reino 
Unido.
Segundo os autores, as florestas tropicais absorvem e armazenam grandes 
quantidades de dióxido de carbono e, graças a essa propriedade, têm um 
papel importante na regulação do clima global. A redução na capacidade 
de armazenamento de carbono observada na Amazônia, de acordo com eles, 
pode ter consequências para os futuros níveis de CO2 na atmosfera e, por
 isso, deveria ser levada em conta pelos modelos matemáticos que são 
usados para prever mudanças no clima global.
'Sumidouro de carbono'
Nas
 últimas décadas, a floresta tem sido considerada como um gigantesco 
"sumidouro de carbono" - por absorver da atmosfera uma quantidade de 
carbono maior que a liberada -, ajudando a frear as mudanças climáticas.
 A nova análise da dinâmica da floresta mostra que o balanço de carbono 
pode ter sido afetado negativamente por uma grande mortalidade de 
árvores.
De acordo com um dos autores, o brasileiro Niro Higuchi, do Instituto 
Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), o crescimento registrado da 
mortalidade de árvores tem relação com três eventos climáticos extremos 
ocorridos em 2005 e em 2010. Segundo ele, em janeiro de 2005, uma grande
 tempestade varreu a Amazônia em uma linha diagonal - do Acre e Rondônia
 até o Oceano Atlântico -, em uma faixa de 200 quilômetros de largura, 
devastando milhões de árvores.
"A nossa estimativa é de que essa 
tempestade, que chamamos de chuva convectiva, tenha matado mais de 500 
milhões de árvores com troncos maiores que 10 centímetros", disse 
Higuchi. Depois, secas de severidade incomum castigaram a região no 
segundo semestre de 2005 e em 2010. "Após esses eventos, com a morte de 
tantas árvores, tivemos um balanço de carbono negativo", afirmou.
Para Higuchi, no entanto, a capacidade da floresta para absorver carbono
 não está irremediavelmente comprometida. Se a perda de árvores em 
grande escala tornou o balanço negativo, as árvores que continuam vivas,
 segundo ele, seguem absorvendo e armazenando o carbono da atmosfera.
"O
 desequilíbrio no balanço de carbono foi registrado principalmente após 
esses eventos extremos. Mas a floresta tem uma capacidade incrível de 
regeneração e sabemos que as árvores mais novas, que nasceram depois 
daqueles eventos, têm capacidade maior de armazenamento", disse o 
especialista. 
Segundo Higuchi, o estudo considerou apenas a 
mortalidade de árvores causada por eventos climáticos extremos, mas não a
 que está ligada ao desmatamento. Os resultados, de acordo com ele, 
revelam os impactos das mudanças climáticas nas funções da floresta.
"Esses eventos como tempestades convectivas e secas sempre ocorreram na 
Amazônia, mas não com a intensidade extrema e a frequência que temos 
visto. As mudanças climáticas tendem a tornar esse tipo de eventos 
extremos cada vez mais comuns", afirmou Higuchi.
Excesso de otimismo
De
 acordo com autor principal do estudo, Roel Brienen, da Escola de 
Geografia da Universidade de Leeds, os dados mostram que a mortalidade 
de árvores cresceu mais de um terço desde a metade da década de 1980. 
"Isso está afetando a capacidade de armazenamento de carbono da floresta
 Amazônica", disse. 
Segundo ele, além dos eventos extremos, o 
próprio excesso de CO2 no ar pode aumentar a longo prazo a mortalidade 
de árvores. O dióxido de carbono é fundamental para a fotossíntese e o 
aumento do composto na atmosfera, inicialmente, leva a um aumento da 
taxa de crescimento das árvores. Mas, depois de algum tempo, esse 
estímulo extra ao crescimento afeta todo o sistema florestal, levando as
 árvores a ter uma vida mais rápido, morrendo mais jovens.
Para Briennen, seja qual for a causa por trás dessa grande mortalidade -
 impacto do CO2 ou eventos extremos -, o estudo indica que há um excesso
 de otimismo nas previsões que indicam uma crescente capacidade de 
armazenamento de carbono das florestas tropicais.
"Os modelos 
climáticos que incluem as respostas da vegetação pressupõem que a 
Amazônia continuará a acumular carbono, à medida que os níveis de 
dióxido de carbono continuam a crescer. Nosso estudo mostra que isso 
pode não estar certo e que os processos de mortalidade de árvores são um
 fator crítico nesse sistema", afirmou Briennen.
A fim de 
calcular as mudanças na capacidade de armazenar carbono, os cientistas 
examinaram 321 pontos diferentes nos 6 milhões de quilômetros quadrados 
da Amazônia Legal, identificando e medindo 200 mil árvores. Além da 
morte de árvores, eles registraram o crescimento de novas árvores desde a
 década de 1980.
Fonte: Yahoo notícias via Estadão conteúdo acessível em
https://br.noticias.yahoo.com/amaz%C3%B4nia-perde-capacidade-absorver-carbono-diz-estudo-140700942.html

 
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