Publicações especializadas em ciência começaram a circular há 350 anos na França e Inglaterra
Um boletim de 12 páginas com o título deJournal des Sçavans 
chegou às mãos dos moradores de Paris no dia 5 de janeiro de 1665. Dois 
meses depois, em 6 de março, saía em Londres o primeiro número daPhilosophical Transactions. Eram as primeiras revistas científicas da Europa – mais tarde chamadas genericamente dejournals
 –, que desde então sofreram numerosas mudanças para se adequar às 
circunstâncias, ao tempo e às transformações da ciência. As duas 
circulam até hoje.
O primeiro número de Le Journal des Sçavans, com oito itens, 
dos quais sete eram resenhas de livros, foi publicado quase dois anos 
antes da fundação da Academia Real de Ciências da França. Depois chamada
 Journal des Savants(savant significa estudioso ou 
sábio), a revista oferecia notícias sobre avanços da ciência – a exemplo
 da primeira transfusão de sangue na França, em 1667 – e das artes, 
decisões do governo e da Igreja, resenhas de livros e obituários, entre 
outros tópicos. Seu primeiro editor foi Denis de Sallo, conselheiro do 
Parlamento de Paris, advogado, escritor e homem de confiança de 
Jean-Baptiste Colbert, ministro das Finanças do rei Luís XIV.
Capa da primeira edição da revista francesa
 depois chamada Journal des Savants
Le Journal des Savants viveu com o patrocínio real até 1701, 
parou de circular em 1792 – durante a Revolução Francesa (1789-99) – e 
foi retomado e reorganizado em 1816, centrando-se em literatura. A 
revista foi mantida com recursos do governo federal e depois do 
Instituto de França, que reúne as principais instituições acadêmicas 
francesas. Uma das integrantes do instituto, a Académie des Inscriptions
 et Belles-Lettres, assumiu a publicação a partir de 1909. Nesse mesmo 
ano a revista publicou um relato do geógrafo francês Paul Vidal de La 
Blache, mencionando as regiões montanhosas do sul do Brasil. 
Inicialmente semanal, o periódico é semestral desde 1992.
A inglesa Philosophical Transactions, desde o início maior e mais abrangente que a similar francesa, depois também mudou de nome para Philosophical Transactions of the Royal Society. O uso da palavra Philosophical se refere a natural philosophy
 (filosofia da natureza), o equivalente ao que depois se tornaria 
conhecido como ciência. Portanto, o título poderia ser traduzido 
livremente, hoje, como transactions of science ou “operações de
 ciência”. O primeiro número – de 16 páginas e 11 itens, entre eles 
relatos sobre lentes, anéis de Júpiter, um minério de chumbo da 
Alemanha, um bezerro deformado e o uso de relógios de pêndulos para 
determinar a longitude no mar – foi editado por Henry Oldenburg, 
primeiro secretário da Royal Society, criada quatro anos antes. 
Diplomata e filósofo, Odenburg iniciou a prática da revisão por pares (peer review), enviando um artigo para análise de especialistas antes de publicá-lo.
Desde o início com periodicidade mensal, a revista se propunha a 
registrar, certificar (por meio da revisão por pares), disseminar e 
arquivar os avanços da ciência. O plano editorial deu certo, e o 
periódico publicou alguns trabalhos fundamentais para a ciência, como a 
teoria de Isaac Newton sobre a luz e as cores, em 1672. Os trabalhos de 
outros cientistas ingleses importantes, como Robert Boyle, James Clerk 
Maxwell, Charles Darwin e, mais recentemente, Stephen Hawking, também 
saíram naPhilosophical Transactions. Em 1887 a revista cresceu e foi dividida em duas. A primeira trata das ciências físicas, a Philosophical Transactions of the Royal Society A:Physical, Mathematical and Engineering Sciences; a segunda, das biológicas,Philosophical Transactions of the Royal Society B: Biological Sciences.
A revista mais antiga da Royal Society 
publicava as cartas entre os membros da associação ou a eles 
encaminhadas. O primeiro relato sobre o Brasil foi uma carta, com a data
 de 1º de janeiro de 1731. Tinha sido escrito por Jacob de Castro 
Sarmento, médico judeu português que havia se refugiado em Londres, para
 o então secretário da Royal Society, Cromwell Mortimer, descrevendo os 
diamantes encontrados em Serro do Frio, em Minas Gerais. Uma exposição 
aberta em dezembro de 2014, em cartaz até junho de 2015, é uma das 
atividades promovidas pela Royal Society para marcar os 350 anos da 
revista.
Fonte: Revista Pesquisa Fapesp
                                                                        Ilustração de um eclipse lunar relatado em 1665



 
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