 
 
  Ferramenta ajuda a encontrar artigos em acesso aberto ou cópias gratuitas de manuscritos publicados em revistas comerciais 
  FABRÍCIO MARQUES e BRUNO DE PIERRO | 
  ED. 242 | ABRIL 2016
Uma nova plataforma on-line foi criada para ajudar a encontrar 
artigos científicos divulgados em acesso aberto ou cópias gratuitas de papers
 publicados em periódicos comerciais. O DOAI (sigla em inglês para 
Identificador Digital de Acesso Aberto), disponível no endereço doai.io,
 é um serviço capaz de rastrear a existência de versões disponíveis na 
internet de trabalhos científicos. É preciso fornecer o código 
identificador do artigo desejado, no padrão conhecido como DOI, para que
 a ferramenta mostre, quando existirem, versões armazenadas em coleções 
de universidades ou perfis de seus autores. O banco de dados que 
alimenta o DOAI é o Base, da Universidade de Bielefeld, na Alemanha, que
 indexa quase 90 milhões de registros de 4 mil repositórios acadêmicos e
 outras fontes de acesso aberto no mundo inteiro. “A abrangência é 
impressionante”, disse Roger Schonfeld, diretor da Ithaca S+R, empresa 
de comunicação científica, em seu blog no portal The Scholarly Kitchen. 
“E a busca parece não privilegiar canais oficiais, como grandes 
repositórios de acesso aberto”, diz ele, que encontrou na plataforma 
textos de sua autoria indexados no repositório de uma biblioteca da 
Universidade do Norte do Texas.
A quantidade de artigos científicos disponíveis na internet é crescente. Estima-se que 40% dos papers
 sejam publicados atualmente em regime de acesso aberto. Esse quinhão é 
maior quando se analisa o universo de artigos publicados no passado. 
Ocorre que um conjunto cada vez maior de manuscritos migra ao longo do 
tempo do acesso fechado, em que só podem ser vistos por assinantes das 
revistas que os publicaram, para o acesso aberto, em que são franqueados
 na internet. Um estudo divulgado em 2013 pela União Europeia mostrou 
que 50% de todos os artigos publicados entre 2004 e 2011 estavam naquele
 momento disponíveis gratuitamente.
Um dos méritos da ferramenta DOAI é difundir os artigos em acesso 
aberto sem exigir que o usuário compreenda as regras e a terminologia 
que regem esse modelo. O acesso aberto se divide em duas grandes 
vertentes. Uma delas é a “via dourada” (golden road), aquela em
 que os periódicos são abertos e oferecem o acesso gratuito a seu 
conteúdo. Entre os exemplos dessa estratégia destacam-se as revistas da 
Public Library of Science (PLoS) ou a coleção de periódicos da 
biblioteca SciELO Brasil, um programa financiado pela FAPESP. A segunda 
vertente é conhecida como “via verde” (green road). Nessa 
modalidade, um autor é autorizado a arquivar no banco de dados de sua 
instituição ou em seu perfil profissional uma cópia de seus artigos 
científicos publicados numa revista comercial. Quem quiser ler o artigo 
sem pagar pode recorrer a esses repositórios – e a maioria deles está no
 banco de dados do DOAI.
Há diversas outras variantes. Algumas publicações permitem que os 
autores depositem cópias de seus artigos em repositórios, mas exigem que
 a divulgação só seja feita de seis meses a um ano após a publicação, 
para preservar seus ganhos nesse período inicial. Instituições de apoio,
 como a Wellcome Trust, fundação britânica de apoio à pesquisa 
biomédica, e os National Institutes of Health (NIH), dos Estados Unidos,
 exigem que os pesquisadores financiados por elas disponibilizem seus 
artigos em bases de dados de acesso aberto, como o PubMed Central, após 
um ano da publicação original em revistas científicas de acesso fechado.
 Outras revistas abrem mão do embargo e divulgam artigos na internet até
 mesmo antes da publicação do periódico em papel – mas cobram uma taxa 
adicional do autor para fazer a divulgação livre e antecipada.
Difusão
“O sistema de comunicação científica é complexo. O DOAI pode tornar-se uma ferramenta de localização importante, mas ainda é necessário consolidar a plataforma”, diz Abel Packer, diretor do programa SciELO. De acordo com ele, o DOAI ainda não é muito conhecido e é cedo para saber se terá uma aceitação generalizada. “A difusão deve levar um tempo. Se tudo der certo, todos os artigos indexados no SciELO terão código identificador”, diz Packer.
O DOAI é uma alternativa legal ao site Sci-Hub, criado em 2011 pela 
programadora e estudante do Casaquistão Alexandra Elbakyan e sediado em 
São Petersburgo, na Rússia. Trata-se de um repositório on-line com 48 
milhões de artigos, na maioria com direitos autorais protegidos, que em 
fevereiro chegou a registrar 200 mil consultas por dia. O funcionamento 
do Sci-Hub tem semelhanças com o DOAI, além de uma busca mais 
abrangente, que não se limita ao código DOI. Seu gigantesco banco de 
dados oferece artigos que foram baixados por meio do uso de senhas 
cedidas por assinantes e são disponibilizados livremente. A editora 
acadêmica Elsevier iniciou em 2015 um processo contra a idealizadora do 
Sci-Hub numa corte em Nova York por violação de direitos autorais, mas 
encontra dificuldade em cercear juridicamente uma iniciativa sediada num
 país distante. “Uma única mulher conseguiu realizar uma colossal 
disponibilização pública de milhões de artigos antes restritos”, diz 
Moreno Barros, bibliotecário e doutor em História da Ciência pela 
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Para ele, iniciativas como o DOAI e o Sci-Hub indicam que a 
comunicação científica está mudando num ritmo lento e que o movimento do
 Acesso Aberto, lançado em 2002 com o objetivo de franquear o acesso à 
produção científica, teve resultados limitados. “Coletivamente, o 
esforço de 14 anos para tirar o conhecimento das mãos das editoras, um 
artigo de cada vez, resultou por ora   em 40% de novos artigos livres”, 
afirma Moreno Barros.
Fonte: Revista Pesquisa FAPESP - http://revistapesquisa.fapesp.br/2016/04/19/atalho-para-chegar-ao-paper/?cat=politica  
 
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