Flickr/National Marine Sanctuaries
Os cefalópodes sempre chamaram atenção. Seja pelo cérebro gigante e 
pelos tentáculos capazes de abrir potes, em prática que tornou famoso o 
polvo alemão Paul por acertar resultados da Copa do Mundo de 2010, pelas
 lulas, que podem se comunicar mudando de cor, ou os chocos (também 
chamados de sépias ou sibas), com habilidades de camuflagem 
incomparáveis. Mas estudos, agora, mostram que eles são capazes até de 
alterar suas sequências genéticas.
            
                Em abril de 2017, foi publicado na revista científica
 norte-americana Cell um estudo conduzido por pesquisadores do 
Laboratório Biológico Marinho em Massachusetts, nos Estados Unidos, e da
 Universidade de Tel Aviv, em Israel, apontando que os cefalópodes podem
 realizar mudanças em mais da metade de seu genoma.
            
                Para entender o que fazem os polvos, é necessário 
saber a diferença entre DNA e RNA. DNA é uma cadeia presente em todas as
 células do organismo (com exceção das células vermelhas do sangue) que 
contém as informações genéticas, determinando cor dos olhos, tom da pele
 e predisposição a alguma doença, por exemplo. Já o RNA atua como se 
fosse um mensageiro, transporta instruções do DNA para as células 
produzirem proteínas.
            
                Os cefalópodes se diferenciam porque nem sempre 
induzem mutações diretamente do DNA; eles editam grande parte desse RNA 
armazenado em células cerebrais. Em outras palavras, não seguem o DNA 
“ao pé da letra” e o RNA pode fazer alterações genéticas diferentes das 
que haviam sido previamente comandadas pelo DNA.
Os cientistas já sabiam dessa capacidade, mas o estudo publicado 
neste ano tinha como objetivo determinar com qual frequência esses 
animais a usavam. E é bastante: eles podem alterar cerca de 60% de seu 
genoma, enquanto nos serem humanos, por exemplo, essa mutação chega a 
apenas 1%.
            
            
                
                    
                        “Com os cefalópodes, esse processo não é uma 
exceção. É regra que se ocorra essa edição”, disse o biofísico e coautor
 do estudo, Eli Eisenberg, da Universidade de Tel Aviv, indicando que a 
maioria dessas alterações genéticas ocorre no sistema nervoso, sugerindo
 que isso contribua no nível de inteligência deles – antes, imaginava-se
 que essas mudanças serviam “só” para ações como adaptação a 
temperaturas.
                    
                        Kazuko Nishikura, professora do Instituto 
Wistar, da Filadélfia, nos Estados Unidos, considera “extraordinária” a 
capacidade de manipulação genética dos cefalópodes. “Podemos aprender 
muito com o cérebro dos polvos”, disse ela ao New York Times.
Aliens
                               Flickr/National Marine Sanctuaries
Os cefalópodes vêm intrigando tanto os cientistas atualmente que o 
zoólogo britânico Martin Well chegou a classificá-los como alienígenas, 
exatamente por conta da peculiaridade de seu genoma em comparação a 
qualquer outro animal conhecido no planeta.
                    
                        Mas, apesar de ser algo aparentemente 
invejável, essa capacidade de alteração genética pode trazer um prejuízo
 evolutivo. Cientistas indicam que, se o RNA é editado, o DNA não sofre 
mutações, e aponta-se exatamente a mutação do DNA como forma de evolução
 e adaptação dos seres para sobreviver e procriar.
                    
                        “Os cefalópodes pagam um preço, que é 
diminuir a evolução do seu genoma. Provavelmente, na evolução das 
espécies, eles acabaram escolhendo editar o RNA, e, talvez, os 
vertebrados preferiram evoluir seu genoma”, explicou o biofísico Eli 
Eisenberg.
                    
                        Fonte: Yahoo Notícias por William Correia


 
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