quinta-feira, 13 de julho de 2017

Polvos podem alterar suas sequências genéticas

                               Flickr/National Marine Sanctuaries

Os cefalópodes sempre chamaram atenção. Seja pelo cérebro gigante e pelos tentáculos capazes de abrir potes, em prática que tornou famoso o polvo alemão Paul por acertar resultados da Copa do Mundo de 2010, pelas lulas, que podem se comunicar mudando de cor, ou os chocos (também chamados de sépias ou sibas), com habilidades de camuflagem incomparáveis. Mas estudos, agora, mostram que eles são capazes até de alterar suas sequências genéticas.
Em abril de 2017, foi publicado na revista científica norte-americana Cell um estudo conduzido por pesquisadores do Laboratório Biológico Marinho em Massachusetts, nos Estados Unidos, e da Universidade de Tel Aviv, em Israel, apontando que os cefalópodes podem realizar mudanças em mais da metade de seu genoma.
Para entender o que fazem os polvos, é necessário saber a diferença entre DNA e RNA. DNA é uma cadeia presente em todas as células do organismo (com exceção das células vermelhas do sangue) que contém as informações genéticas, determinando cor dos olhos, tom da pele e predisposição a alguma doença, por exemplo. Já o RNA atua como se fosse um mensageiro, transporta instruções do DNA para as células produzirem proteínas.
Os cefalópodes se diferenciam porque nem sempre induzem mutações diretamente do DNA; eles editam grande parte desse RNA armazenado em células cerebrais. Em outras palavras, não seguem o DNA “ao pé da letra” e o RNA pode fazer alterações genéticas diferentes das que haviam sido previamente comandadas pelo DNA.
Os cientistas já sabiam dessa capacidade, mas o estudo publicado neste ano tinha como objetivo determinar com qual frequência esses animais a usavam. E é bastante: eles podem alterar cerca de 60% de seu genoma, enquanto nos serem humanos, por exemplo, essa mutação chega a apenas 1%.
“Com os cefalópodes, esse processo não é uma exceção. É regra que se ocorra essa edição”, disse o biofísico e coautor do estudo, Eli Eisenberg, da Universidade de Tel Aviv, indicando que a maioria dessas alterações genéticas ocorre no sistema nervoso, sugerindo que isso contribua no nível de inteligência deles – antes, imaginava-se que essas mudanças serviam “só” para ações como adaptação a temperaturas.
Kazuko Nishikura, professora do Instituto Wistar, da Filadélfia, nos Estados Unidos, considera “extraordinária” a capacidade de manipulação genética dos cefalópodes. “Podemos aprender muito com o cérebro dos polvos”, disse ela ao New York Times.

Aliens
                               Flickr/National Marine Sanctuaries
Os cefalópodes vêm intrigando tanto os cientistas atualmente que o zoólogo britânico Martin Well chegou a classificá-los como alienígenas, exatamente por conta da peculiaridade de seu genoma em comparação a qualquer outro animal conhecido no planeta.
Mas, apesar de ser algo aparentemente invejável, essa capacidade de alteração genética pode trazer um prejuízo evolutivo. Cientistas indicam que, se o RNA é editado, o DNA não sofre mutações, e aponta-se exatamente a mutação do DNA como forma de evolução e adaptação dos seres para sobreviver e procriar.
“Os cefalópodes pagam um preço, que é diminuir a evolução do seu genoma. Provavelmente, na evolução das espécies, eles acabaram escolhendo editar o RNA, e, talvez, os vertebrados preferiram evoluir seu genoma”, explicou o biofísico Eli Eisenberg.
Fonte: Yahoo Notícias por William Correia


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